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Crítica – O Rastro

Filme é um sinal de esperança para a produção do gênero horror em território nacional.

Sabemos o quão é difícil produzir filmes no Brasil. As possibilidades de financiamento são quase nulas e quando surgem, vêm apenas em favor dos “blockbusters” nacionais: comédias com atores televisivos ou cine favela-policial. Por isso, pode-se imaginar o porquê de O Rastro ter demorado oito anos para ser finalizado. O filme de suspense/terror teve que lidar com o preconceito dos financiadores e também do público, que lota salas para ver os clichês de terror norte-americanos, mas torce o nariz para produções nacionais. Felizmente, O Rastro cumpre bem o seu papel e é um marco para o gênero no país.

O filme acompanha a história de João (Rafael Cardoso), ex-médico que supervisiona a transferência de pacientes de um antigo hospital do Rio de Janeiro, fechado por falta de verbas. Em meio à transferência de pacientes ele se depara com Júlia (Natália Maciel Guedes), uma garota abandonada que desaparece sem deixar vestígios. João fica obcecado por encontrar a garota enquanto estranhos eventos levam-no a questionar a própria sanidade.

O enredo do filme é bem desenvolvido, apresentando uma trama envolvente, com reviravoltas ousadas e, claro, muitos sustos. A abordagem fictícia se confunde com a crítica social que se faz a um sistema de saúde falido, verdadeira causa de terror para muitos. As ótimas atuações fortalecem o filme, que conta ainda com Leandra Leal e Cláudia Abreu. Apesar disso o espectador perceberá algumas falhas de continuidade, mas nada que prejudicará a apreciação do filme.

Mas é na parte técnica que está a maior qualidade do filme. Com uma fotografia cinza e sombria contrastante com o calor infernal do Rio de Janeiro, o filme se inspira em obras como O Iluminado (Stanley Kubrick, 1980) e Babadook (Jennifer Kent, 2014) para gerar desconforto e tensão no espectador. O diretor J.C. Feyer conduz a narrativa de forma brilhante mantendo a atenção do público do início ao fim.

Se não é perfeito, O Rastro chega muito perto da perfeição e abre uma nova fronteira no cinema nacional. Que a partir dele o gênero terror possa crescer no Brasil e nos presentear com outras boas obras como este filme.

anderson goncalves

Filósofo, professor, cinéfilo, colecionador, sarcástico profissional e nas horas vagas roteirista. Guarulhense, católico que acredita no poder da Força, gosta de viajar fisicamente e em seus devaneios e paranoias. Minha capacidade para ser feliz poderia ser colocada numa caixa de fósforos, sem tirar os fósforos antes.