Batman e a Segregação Norte-Americana – 1/4
Por décadas a fio, as HQs de super-heróis foram exemplo de educação política: resistência, quando uma instituição estava em perigo; progressismo e militância, quando foi necessário. Batman foi o primeiro a se expressar sobre preconceito racial e direitos civis.
Em meio à onda racista dos anos 1960 nos EUA, provocada pelo excessivo fluxo migratório de negros para Nova York, pela quebra da previdência, a Grande Depressão e as ideologias raciais de seitas extremistas, a equipe criativa de Batman, notando o símbolo ideário de humanismo que o super-herói à época já representava, decidiu romper o silêncio e fazer o Homem-Morcego se pronunciar a respeito, o primeiro dos muitos heróis a se pronunciarem a partir dali. E, como marca do detetive, sua fala foi uma contundente advertência, mesmo correndo o risco de perder leitores simpáticos ao segregacionismo. Literalmente um ato heroico.
Um surpreendente anúncio de serviço público de 1949, na contracapa das HQs Detective Comics e Batman, chamado “Stand Up For Sportsmanship” (“levantem-se para o espírito esportivo”, em tradução livre), apresenta Batman apartando uma briga entre dois garotos, um branco e um negro; o herói pergunta o que aconteceu, descobrindo a causa da briga: o garoto branco não quer que o garoto negro brinque com eles, porque “ele não pertence à nossa raça, ele não é um americano de verdade”. Batman responde com uma célebre lição sobre a tolerância racial pouco vista nos quadrinhos mainstream daquela época.
Devido ao impacto dessa mensagem do Cavaleiro das Trevas, nos anos 1960, essa mesma história voltou a circular nos quadrinhos relacionados a Batman como forma de apoio à luta pelos direitos civis encabeçada por Malcom-X e Martin Luther King, como em Batman Vai à Feira Mundial de Nova York de 1965 (“Batman Goes to the World’s Fair in New York: The World of Tomorrow”). Na 5ª quadrícula, o Homem-Morcego, sendo exemplo para o Menino Prodígio, para os meninos da história e para seus leitores, discursa (com tradução minha):
“Não acreditem em certas excentricidades e mentiras de pessoas que cultuam ser diferente de outras cuja pele é de uma cor diferente ou de cujos pais tenham vindo de outro país. Lembrem-se de nossa herança americana de liberdade e igualdade!”.
E, na última quadrícula, metaforiza para as crianças que estão jogando futebol americano:
“Uma nação dividida pelo preconceito é como um time de futebol sem trabalho em equipe”.
Continua na próxima edição.