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Bonecos Shazam no Brasil – parte 1 de 2

Ele é o super-herói mais fabricado entre os personagens do segundo escalão da DC, e, junto com o Superman, é o mais vendido da linha retrô DC World’s Greatest Super Heroes. Com vocês, um breve histórico do fabrico do Shazam em nossa terra! 

“Shazam”, um termo, para muita gente, novo, devido às viralizações que as notícias sobre a gravação de seu filme têm dado. Muita gente, aliás, terá seu primeiro contato com o super-herói somente quando o filme for a cartaz. Entretanto, o que as novas gerações de nerds desconhecem – e que o Nerd Tatuado tratará de apresentar – é que Shazam já foi muito popular em nosso país, chegando a rivalizar por igual com o Superman na linha de brinquedos.

Parte desses ecos da popularidade ressoou tendo como ponto de partida o seriado “As Aventuras do Capitão Marvel”, com Tom Tyler (1941), os almanaques anuais SHAZAM da RGE (1952-1956); a nova diagramação mensal e colorida das revistas em quadrinhos EBAL, que angariou um público leitor já na primeira série de quadrinhos intitulada “Com a Palavra Mágica SHAZAM!” (1973-1976); a telessérie e a animação “SHAZAM!”, a primeira de 1974, a segunda de 1983, ambas pela Filmation, exibidas pela TV Globo, multiplicando a adesão de novos públicos. Esse cenário “shazâmico” brasileiro, horizontalizado do gibi à TV, oportunizou à indústria e ao varejo uma certa liberdade (e risco empreendedor) em comercializar itens do herói, visto, na época, como uma fonte lucrativa vinda do público infantil, mesmo com o cruzeiro hiperinflacionado num país de 3º mundo.

O Capitão Marvel, pelo seu histórico de fabricação de action figures em terra brasilis, pode ser tranquilamente equiparado a todo o licenciamento de bonecos do Superman também no Brasil, em nada lhe devendo. Com o presente levantamento que fiz e que remonta 45 anos de indústria dos brinquedos Shazam, conheçamos essas marcas e esses bonecos no Brasil do Grande Queijo Vermelho.

A popularidade nos anos 1970

1. ⚡MEGO® – linha “World’s Greatest Super-Hero” (1970)

MEGO® – linha World’s Greatest Super-Hero (1970): 3 pontos de articulação, roupa de tecido, remoção da capa, da bota e do traje.

Para concorrer com os recém G.I.Joe FALCON, com uma escala de 8” (cerca de 20 cm), o boneco Shazam dessa linha possuía apenas 3 pontos de articulação, porém era inovador: vinha com roupa de tecido e trazia o conceito de corpo intercambiável que permitia remoção de mãos, da cabeça, do uniforme e equipamentos. No Brasil, vinha direto da fôrma da MEGO, sem tradução para o português. O Capitão Marvel teve duas versões: a genérica do universo dos quadrinhos DC (vendida em 1970) e a do seriado da Filmation (vendida em 1979). A distribuição foi setorizada para ambas as versões, e somente as regiões Sul-Sudeste puderam consumi-las.

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2. ⚡Gulliver – linha “Figuras de Ação” (1973-74)

Numa escala de 8cm, o boneco era na realidade uma estatueta em gesso colada numa base de resina, uma forma de baratear o consumo de itens do personagem para compensar a marca mais “elitizada” da época, a MEGO. O molde era norte-americano, mas a Gulliver já tinha fábrica aqui, o que barateou a fôrma do boneco. O Capitão Marvel recebeu duas versões: uma mais simples, rudimentar, em 1973, outra mais definida, detalhada, em 1974. Tornou-se, com efeito, mais popular entre a garotada de baixa renda.

Gulliver – linha Figuras de Ação (1973-74). 1ª versão de 1973: estatueta em gesso rudimentar. Única e rara imagem encontrada.
Gulliver – linha Figuras de Ação (1973-74). 2ª versão de 1974: estatueta em gesso detalhada.

3. ⚡MEGO® – linha “Super-Heróis Pocket” (1975)

Já com produção no Brasil, a MEGO industrializou a linha com escala de 12x6cm com 6 pontos de articulação. O Capitão Marvel dessa linha era uma versão mais barateada da marca, feito em plástico resinado com retícula de verniz, com uma base de mesmo material e capa de tecido. A linha ficou marcada por ter sempre na mão direita um orifício para encaixe de acessórios (que não vinham no Shazam), entretanto não ficou famosa por aqui.

MEGO® – linha Super-Heróis Pocket (1975). Boneco de 12x6cm com 6 pontos de articulação.

Conheça a linha Pocket

4. ⚡Gulliver – linha “Miniaturas Plásticas” (1976-78)

Eram estatuetas com escala de 12cm. Tiveram duas fases: a primeira, feita de um emplasto enrijecido colado numa base de mesmo material, sem capa; a segunda, feita em vinil pintadas à mão e com capa, ambas com fôrma produzida aqui. Shazam, na primeira fase, foi fabricado na cor abóbora, enquanto na segunda nas cores das HQs.

Gulliver – linha Miniaturas Plásticas (1976-78). 1ª fase (1976), plástico rijo monocromático abóbora e sem capa.
Gulliver – linha Miniaturas Plásticas (1976-78). 2ª fase (1978), vinil colorido com capa de lona.

Visite “Super-Heróis Brasil/Gulliver”

5. ⚡MEGO® – linha “The TV Super-Hero” (1979)

MEGO® – linha The TV Super-Hero (1979): versão do seriado da Filmation com molde no ator Jackson Bostwick em plástico, vinil e tecido. Capa, botas e o traje eram removíveis.

Mesmas escala e propriedades do primeiro boneco do Shazam no Brasil da linha World’s Greatest Super-Hero de 1970. Era a versão do seriado da Filmation com molde no ator Jackson Bostwick, lançada tardiamente no Brasil [foi lançada nos EUA em 1976, mas nesse ano o seriado do Shazam não era exibido no Brasil], sem tradução e sem as fôrmas próprias. Considerado artigo de luxo na época, hoje é relíquia para colecionadores.

Foto publicitária da telessérie “Shazam” (1974).

Conheça mais da MEGO de 1976

6. ⚡Pepsi© – linha “Promoção Super Heróis DC” (1981)

Pepsi© – linha Promoção Super Heróis DC (1981). 1ª versão monocromática (10 tampinhas) e a que lotou o varejo.

Resultado duma parceria da Gulliver com o refrigerante Pepsi, a promoção se dava pela troca de 10 ou 25 tampinhas das garrafas Pepsi por uma estatueta miniaturizada feita em plástico colorido, em cores variadas. Em poses dinâmicas fixadas numa base plástica, as miniaturas tinham escala de 6x3cm. Houve duas versões: uma mais simples (a de 10 tampinhas), chamada “monocromática”, onde o boneco era duma cor só, a outra mais elaborada (de 25 tampinhas), chamada “dinâmica”, onde o boneco tinha as cores dos quadrinhos. Como a monocromática foi a mais popular, um ano depois ela já podia ser comprada em vendinhas e lojas do varejo em quites confeccionados pela Gulliver. O Capitão Marvel era um dos mais procurados, sobretudo na cor vermelha.

Pepsi© – linha Promoção Super Heróis DC (1981). 2ª versão dinâmica (25 tampinhas) e que se restringiu à promoção.

Visite “Super-Heróis Brasil/Pepsi”

→ Continua na próxima edição: "Os bonecos Shazam nos tempos do ocaso".

Wagner Ávlis

Crítico de histórias em quadrinhos, membro da Academia Maceioense de Letras, articulista e professor de língua portuguesa.