Cinema

Crítica – Confronto no Pavilhão 99

Crítica Confronto no Pavilhão 99

O cineasta S. Craig Zahler demonstra um início de carreira muito interessante, seu primeiro filme como diretor é Rastro de Maldade (Bone Tomahawk no original) e já deixa à mostra suas influências e sua assinatura narrativa, além de já ter a oportunidade de comandar atores veteranos como Kurt Russell e Richard Jenkins.

Sua principal característica até o momento é uma violência visceral e seca, o que remente muito à forma de dirigir do cineasta americano Sam Peckinpah, o que não é de se estranhar, uma vez que Peckinpah também é influência para Quentin Tarantino que também tem uma marca forte na violência visual, inclusive ambos (Craig e Tarantino) utilizaram essas influências em filmes western, onde Peckinpah se consagrou (assistam Meu ódio será sua herança).

Pois bem, o segundo filme de Craig foi exibido ano passado (2017) e leva o nome de  Confronto no Pavilhão 99 (Brawl in Cell Block 99 no original) e mais uma vez podemos observar as marcas fortes da assinatura de Craig, uma rispidez na violência e num visual que rima muito com gore.

A proposta do diretor não é reinventar a roda, tanto é que a história que move o filme não é das mais inovadoras, mas a intenção é na realidade criar uma aura sangrenta e obscura em torno do personagem principal (Vince Vaughn sensacional) e para construir a narrativa o diretor usa vários planos em tons de cinza e verde escuro a cada vez que o protagonista muda de vontade e seu estado mental se altera, as cores também mudam, o que foi uma sacada narrativa muito interessante.

A reflexão principal do filme é tão cruel quanto suas cenas, Craig nos leva a pensar se somos capazes de cometer atos de barbárie para proteger as pessoas que são importantes para nós, o diretor explora essa questão através do sangue e ao mesmo tempo humaniza os personagens através de suas relações o que possibilita notar um belo domínio de linguagem.

Esse domínio fica mais nítido ao fazer as transições de cenários, o mais importante acontece dentro de estabelecimentos prisionais e a forma como o diretor chega a tal situação é que dita a sua capacidade, os atos não são desconexos entre si e flui com naturalidade, o que se torna fácil de comprar e acreditar, méritos de Craig.

Por fim, pode-se fazer uma analogia da trajetória do personagem de Vaughn com os andares do inferno de Dante a cada atitude um passo para se aprofundar mais e mais no caos, tanto é que o local onde ocorre as cenas finais, literalmente parece um inferno.

Victor Magalhães

Formado em Ciências Contábeis, mas atuando na área financeira, atualmente estuda Direito, viciado em comprar livros (mesmo sabendo que talvez não vá ler rs), cinéfilo, gamer, aspirante a crítico de cinema, apreciador de séries e desenhos, pode ser encontrado facilmente pelos melhores bares da cidade.