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CRÍTICA – Logan

O filme definitivo do Wolverine estreou no Brasil e mexeu com os sentimentos do espectador. 

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Não é preciso ser um grande fã da Marvel para reconhecer o lugar de destaque que o personagem Wolverine ocupa na mitologia dos quadrinhos. Criado em 1974 por Len Wein e John Romita para ser um mero vilão do Incrível Hulk, Wolverine logo ganhou popularidade e se tornou um dos favoritos dos amantes da nona arte. Integrou algumas das mais importantes equipes da Marvel, como os X-Men, a X-Force, a Tropa Alfa e Os Vingadores, mas sempre foi uma espécie de cavaleiro solitário, travando as próprias batalhas enquanto tentava superar os traumas de um passado assombroso.

Talvez por isso, a 20th Century Fox, acertadamente, tenha escolhido o personagem para ser o grande protagonista de “X-Men: O Filme“, nos anos 2000. A boa receptividade para com o filme fez a produtora criar um rico universo com 10 filmes – sendo alguns um verdadeiro fiasco – que sempre contaram com a participação do carcaju mais querido de todos. Tal sucesso só pode ser atribuído à escalação do ator Hugh Jackman para o papel. Por isso é tão difícil se acostumar com a ideia de que Logan seja o último filme do ator como o personagem que ele ajudou a consolidar e a imortalizar nas telonas.

Logan é o filme definitivo do Wolverine. O filme que todos, inclusive o ator, esperavam. Engraçado, assustador, dramático, encorajador, Logan é uma mistura de sentimentos que mexe até com o mais insensível dos espectadores. Além disso, Logan pode ser considerado uma obra prima do cinema: excelente fotografia, uma edição impecável, trilha sonora marcante e atuações para serem aplaudidas de pé, em especial as de Hugh Jackman e a de Dafne Keen, exuberante como a X-23.

A escolha por uma classificação indicativa para maiores de 18 anos (16 anos, no Brasil) permitiu que víssemos um filme mais maduro e, consequentemente, mais fiel ao clima da obra que lhe serviu de inspiração, a saga O Velho Logan, de Mark Millar e Steve McNiven. As cenas de violência são avassaladoras, por vezes enojantes, mas é impossível tirar os olhos. Palavrões são constantes no filme mas colocados de maneira orgânica, representando o que cada um de nós falaria nas mesmas situações e, contribuindo para aliviar a tensão do filme, já que é impossível não rir ao ouvir o Professor Xavier soltando um “vai se foder Logan!“. Hugh Jackman dá vida ao personagem como nunca: anda mancando o tempo inteiro, respira de maneira ofegante, torna crível cada golpe (e quantos golpes!) que o personagem sofre, sua atuação torna real o fato de que Logan está de fato usando suas últimas forças em cada luta em que se envolve. Dafne Keen, a pequena atriz de apenas 11 anos, dá um show no papel de X-23. Consegue ser cruel e meiga ao mesmo tempo. É impossível não se apaixonar pela personagem, que não se intimida ao lado do Wolverine e chama todo o protagonismo da história para si. Ela é o ponto alto do filme e suas dores e angústias se tornam nossas dores e angústias.

Quando se mata alguém não há mais volta!“. A citação tirada do filme Shane (Os Brutos Também Amam, exibido e citado durante o filme) é a ideia norteadora do filme. Logan  foi criado para ser uma arma e saber que ele matou tantas pessoas ao longo da vida é uma memória pesada demais para suportar, mas que não dá para fugir. O que resta é tentar ajudar a pequena Laura, a X-23, a não seguir o mesmo caminho, mas também ajudá-la a entender que se ela for obrigada a matar alguém, mesmo que um vilão, ela terá que aceitar e conviver com isso. Não há paraíso onde as coisas são melhores, não há finais felizes como nos quadrinhos, tudo isso não passa de ilusões. Talvez a grande mensagem do filme é que somos quem devemos ser, tentamos fazer o melhor que dá, gozamos dos momentos de felicidade, mas nada é eterno. No fim, só o que podemos levar conosco são as nossas lembranças e a esperança de que as pessoas se lembrem de nós, ainda que seja apenas na forma de um boneco na mão de uma criança.

Ao contemplarmos pela última vez o famoso X em tela, tão representativo do personagem, percebemos que não podemos evitar o fim da saga ou que Hugh Jackman abandone o papel, só o que nos resta agora será a lembrança destes 17 anos de filmes e a memória que deve nos fazer lembrar do por que amamos quadrinhos, por que amamos cinema, por que amamos esses personagens, por que amamos Wolverine.

anderson goncalves

Filósofo, professor, cinéfilo, colecionador, sarcástico profissional e nas horas vagas roteirista. Guarulhense, católico que acredita no poder da Força, gosta de viajar fisicamente e em seus devaneios e paranoias. Minha capacidade para ser feliz poderia ser colocada numa caixa de fósforos, sem tirar os fósforos antes.