Cinema

Crítica – Ponte dos Espiões

Filme Ponte dos Espiões

Uma coisa que é notória quando tratamos do cinema de Hollywood: os filmes do Steven Spielberg sempre estarão presentes na maior festa da indústria de cinema do mundo. Todos seus últimos trabalhos tiveram presença cativa nas indicações e premiações da academia, Lincoln (2012), Cavalo de Guerra (2011), Munique (2005) fizeram às vezes nos seus anos de lançamento.

E como não poderia ser diferente, no ano de 2015 sua produção foi indicada a nada menos que seis categorias para a edição do Oscar. Em Ponte dos Espiões, Spielberg demonstra mais uma vez porque é um dos cineastas mais importantes do cinema americano.

Em plena Guerra Fria, o advogado James Donovan (Tom Hanks) é indicado para uma tarefa muito diferente do seu habitual: efetuar o trabalho de defesa de Rudolf Abel (Mark Rylance), um espião soviético capturado pelos americanos. Donovan acaba por torna-se a peça central das negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética ao ser enviado a Berlim para negociar a troca de Abel por um prisioneiro americano, que foi capturado em território soviético.

A premissa incomum ao tratar-sede filmes que retratam essa época da história, já é o primeiro passo para a boa construção que o roteiro escrito pelos irmãos Coen e a câmera do Spielberg vem para abordar um conflito ácido: a relação entre o homem da lei com preceitos morais e éticos próprios e um sistema político constitucional em tempos de guerra.

Donovan na realidade não tem sangue puramente americano, esse ponto sutil é que dá um embasamento forte para suas convicções, pois se deixado à deriva na mão dos americanos, Abel seria executado para servir de exemplo aos países inimigos, e com audácia e criatividade ele convence os tribunais a manter a vida do espião capturado para servir de moeda de troca.

À primeira vista a narrativa pode parecer lenta, mas deve-se atentar para o fato de que o trabalho de advocacia e negociação não é uma tarefa que imputa ritmos acelerados, e nesse sentido Spielberg foi muito feliz, sua câmera apoia o ritmo da narrativa, os planos são trabalhados para que cada etapa do processo de negociação transmita o clima de risco iminente que marcou a guerra fria, um erro nas palavras poderia ocasionar um conflito de maiores proporções.

E essa proposta foi muito bem apoiada pela atuação contida e intrincada do Tom Hanks, demonstrando um personagem que o tempo todo é auto vigilante, sabendo dos riscos que corre um erro seu seria fatal, e os olhares que ele transmite esclarece a preocupação constante em não cometer equívocos. O título do filme em si já é uma metáfora ao personagem Donovan, ele torna-se essa ponte entre dois hemisférios conflitantes, ideia que é ilustrada de maneira genial quando na cena final a troca pelos prisioneiros é feito em uma ponte, demonstrando um belo domínio de linguagem.

Victor Magalhães

Formado em Ciências Contábeis, mas atuando na área financeira, atualmente estuda Direito, viciado em comprar livros (mesmo sabendo que talvez não vá ler rs), cinéfilo, gamer, aspirante a crítico de cinema, apreciador de séries e desenhos, pode ser encontrado facilmente pelos melhores bares da cidade.