Quadrinhos

Muito além da cueca por cima das calças – Parte 1

Os heróis sempre foram motivo de fascínio por jovens e adultos ao longo dos anos. É um gênero que nasceu nos quadrinhos, onde, até hoje, eles são melhor representados. Talvez por esse motivo o senso comum sempre relacione uma coisa com a outra, como se quadrinhos fossem uma mídia apenas de gente fantasiada e com roupa apertada.

Diante disso, os quadrinhos ganharam o rótulo de produto infantil, sem valor estético e até mesmo cultural, mesmo tendo grandes clássicos que se propõem a discutir a sociedade e seus valores.

O leitor mais antigo sabe que quadrinhos vão muito além de capas e superpoderes – afinal de contas, o gênero de heróis é só uma fração de todo o universo da banda desenhada. Mas existe vida além das máscaras?

Sim, existe. E existe muita vida. Existe vida bagarai!

Por esse motivo, separei algumas dicas de quadrinhos que fogem completamente dos títulos já batidos que até sua tia-avó já conhece. Nessa lista, não vai ter nada de heróis ou daqueles quadrinhos já citados em qualquer lista. Aqui só vem coisa fina, coisa nova, pra você.

Para fazer essa lista, adotei os seguintes critérios:

  1. Não poderia ser herói ou material muito conhecido;
  2. Tem que ter sido lançado no Brasil;
  3. Na medida do possível, tentei colocar obras que ainda fossem possíveis de serem encontradas nas megastore e lojas especializadas;
  4. Usarei as sinopses oficiais da editora para que não seja acusado de soltar algum spoiles sobre as mesmas;
  5. E ficaram de fora materiais nacionais. O motivo? O próximo post será apenas sobre quadrinhos nacionais.

Chega de papo, vamos as obras:

Nova York: a vida na cidade grande, de Will Eisner

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“Protagonizados por personagens singulares, as histórias reunidas neste livro registram momentos às vezes irônicos, às vezes trágicos, da vida dos habitantes da metrópole, revelando muito mais do que “um acúmulo de grandes edifícios, grandes populações e grandes áreas”. Nova York: A grande cidade e Caderno de tipos urbanos são compostos de vinhetas que registram, a partir do cenário da cidade, aspectos do dia a dia de seus habitantes. Esses breves vislumbres iluminam com delicadeza desde as situações mais cotidianas até as reviravoltas mais trágicas.”

Will Eisner é um gênio, talvez o maior nome dos quadrinhos.  Toda sua obra é digna de nota e sua forma de narrar e contar histórias influenciou toda uma geração de artistas até hoje. Nova York é um grande apanhado da capacidade desse sujeito que transformou quadrinhos em arte. Obra imperdível!

O Mundo de Edena, de Moebius

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“A pirâmide é uma nave-estrela viva, encarregada de transportar uma amostra completa de todos os seres pensantes desta galáxia. E qual será o destino dessa pirâmide?”

Aposto que você achou curiosa essa sinopse, correto? Moebius é um daqueles artistas que, assim como Moebius, são considerados gênios da 9° arte. Um dos artistas mais impressionantes, com seu poder de criar poesia através de imagens incríveis. No Mundo de Edena, uma coleção de 6 livros, temos uma história repleta de ficção científica, misticismo e aventura, numa saga sobre autoconhecimento e evolução humana.

Habibi, de Craig Thompson

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“A saga de dois escravos fugitivos, unidos e separados pelo destino, vivendo no limite que separa a tradição da descoberta.”

Craig Thompson é uma máquina de fazer bons quadrinhos. Habibi é um deleite para os olhos, uma hq com ilustrações belíssimas e uma histórica que emociona.

O Escultor, de Scott McCloud

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“David vai dar sua vida pela arte. Literalmente. Após um acordo com a Morte, o jovem escultor obtém seu desejo de infância: esculpir o que quiser com as mãos nuas. Mas agora que só lhe restam 200 dias de vida, decidir o que criar é mais difícil do que ele pensava. Descobrir o amor de sua vida na penúltima hora não ajuda em nada. Uma história sobre paixão que supera os limites da razão; sobre o compasso frenético e desajeitado do amor jovem; e um retrato belíssimo das ruas da cidade mais fantástica do mundo. Daqueles momentos pequenos, queridos e humanos da vida cotidiana… e das forças enormes que revolvem logo abaixo da superfície.”

De todas as obras dessa lista, essa é a mais recente.  Scott McCould, após ensinar como os quadrinhos devem ser feitos, mostra isso na prática com uma obra definitiva.

Três Sombras, de Cyril Pedrosa

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“Joachim e seus pais levam uma vida tranquila no campo. No entanto, a aparição de três sombras no alto de uma colina, corrói a harmonia da vida em família. Por que estão rondando a casa? A cada tentativa de aproximação, as figuras misteriosas desaparecem. Logo, eles percebem que as sombras estão ali para buscar Joachim. Sendo assim, o pai foge com o filho em uma viagem desesperada, sempre com as sombras em seu encalço, passando por terras hostis e um navio precário entre outros lugares.”

Cyril Pedrosa é um nome conhecido para quem curte as animações da Disney, tendo trabalho nos filmes O Corcunda de Notre Dame e Hércules. A ele pertence  um dos traços que mais encantam em se tratando e hqs. Três Sombras é uma obra que trata sobre a aceitar as circunstâncias e a inevitabilidade da vida.

O Eternauta, de Héctor G. Oesterheld e Francisco Solano López

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“Todo o mundo sabe que em Buenos Aires quase nunca neva, e que, quando isso ocorre, é porque algo anormal pode estar acontecendo, até mesmo uma catástrofe. Mas essa catástrofe poderia chegar ao ponto de anunciar uma praga mundial? Uma tragédia cuja causa evidente se desconhece? Um evento que mudará o destino da humanidade? E, pior de tudo, um horror sem um rosto definido contra o qual se deve lutar?”

Esse é um dos maiores clássicos de ficção científica já escritos, sendo referência em todo o mundo. O Eternauta, obra máxima e clássica da nossa vizinha argentina, é uma metáfora genial sobre o período da ditadura que viveram os hermanos. Seja para fãs de ficção científica ou de temas políticos, essa é uma das obras indispensáveis para qualquer fã de quadrinhos.

Planetes, de Makoto Yukimura

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“Em um futuro não tão distante, viver no espaço é uma realidade. Com a recente colonização lunar, é preciso lidar com os problemas que surgem nesse ambiente tão hostil para os humanos. Yuri, Hachimaki e Fee são três lixeiros espaciais que enfrentam seus próprios medos e dramas, ao mesmo tempo em que mudam a vida de muitos à sua volta.”

As editoras JBC e Panini, acertadamente, estão trazendo cada vez mais mangás que fogem do escopo dos medalhões tradicionais. Em Planetes, vemos que partir rumo ao desconhecido e desbravá-lo nem sempre significa um novo começo. Obra curtinha em apenas 4 volumes.

Jimmy Corrigan: o menino mais esperto do mundo, de Chris Ware

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“Jimmy Corrigan, um tímido e solitário homem de meia-idade que trabalha numa repartição e vive reprimido pela mãe carente e dominadora. A trama principal tem início quando Jimmy recebe uma carta do pai que nunca conheceu e viaja a uma pequena cidade de Michigan para encontrá-lo no feriado de Ação de Graças. Seu contato com o pai, o avô e uma meia-irmã desdobra-se numa série de episódios constrangedores e claustrofóbicos que parecem não deixar qualquer espaço para a aproximação afetiva.”

Essa, infelizmente, já é rara no Brasil – mas não custa nada sonhar com uma reimpressão. Possui uma linguagem diferenciada, com uma diagramação e design únicos, sem contar todo o cuidado do autor nos mínimos detalhes. O enredo é rico e narra uma história tocante sobre aceitação. Se achar essa hq dando mole por aí, nem pense duas vezes: compre.

Asterios Polyp, de David Mazzucheli

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“Asterios é um arquiteto de cinquenta anos, cujo renome vem exclusivamente de seus trabalhos teóricos. Mulherengo, misógino e de uma arrogância quase inacreditável, ele vê seu passado se esfacelar após um incêndio que consome sua casa. Tendo salvado apenas uns poucos objetos pessoais, Asterios parte numa viagem de ônibus, até onde o dinheiro em seu bolso puder levá-lo.”

David Mazzucchelli é um nome bem conhecido dos quadrinhos, participando de albuns consagrados como “Demolidor: o homem sem medo” e “Batman: ano um”. Em Asteryos Polyp, o foco está em relacionamentos, expectativas e, principalmente, arte, em um grande exercício de experimentalismos gráfico.

Os Companheiros do Crepúsculo, de Francois Bourgeon

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“Os Companheiros do Crepúsculo se passa na Idade Média durante a Guerra dos Cem Anos. A história é centrada nos personagens do Cavaleiro, Mariotte e Anicet, em sua busca por redenção ou pela simples sobrevivência.”

Essa é uma obra clássica que sempre figura na lista de melhores hqs já feitas, e não é por acaso. Uma história repleta de fantasia, muitas cenas de ação e um detalhismo incrível, ambientada no período medieval. Indispensável para qualquer fã de quadrinhos.

 

E faltaram MUITOS títulos, jovem! Poderíamos ficar durante dias falando sobre quadrinhos que fogem do convencional. Mas não se preocupe, essa é só a primeira parte e em breve teremos muitos mais por aqui. Lembrando que os quadrinhos nacionais terão postagens exclusivas, por isso não deram o ar da graça nessa lista. 😉

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gilberto coelho jr

Quando criança, lia quadrinhos, jogou video-games, assistiu filmes, desenhos, teve coleções e tudo mais que o universo geek/nerd proporciona. Atualmente, já adulto, continua a fazer as mesmas coisas. Gilberto é um cara previsível, mas ninguém duvida que ele tenha bom gosto.