Quadrinhos

Por que Arlequina se tornou um sucesso?

Veja o passo a passo da carreira da Arlequina até a sua atual fama de anti-heroína e entenda, definitivamente, qual a explicação de sua grande popularidade. E o mais traquino disso, veja tudo narrado por ela mesma!

 (– Gravando!).

♬♪ […] 1, 2, 3: aguarde sua vez! 4, 5, 6: beijinho explosivo em vocês!♫♩

Hahahaha! Hum-hum [pigarro]. Errr… É pra falar sério agora, Pudinzinho?

(– Sim!!).

Oh, miguxinha… Bons tempos aqueles, né, Pam?

Tá. Oi, oi, docinhos! Muita gente tem se perguntado na net por que eu agora sou o centro das atenções no mundo nerd; o que eu tenho que minha “miga” Hera (Venenosa) não tem pra merecer um gibi próprio; e pelo quê tenho sido a preferida da vez entre as fanartes e as cosplayers. Bang! Eu mesma tenho a resposta…

(– Ai, mon amour, estou me saindo bem?).

(– Sim. Só. Não. In-ter-rom-pa. De. Novo!).

Iupe-iupe! [Smack!]. Continuando, “bang! Eu mesma tenho a resposta”. Comecei a chamar a atenção assim que dei um pinote em Batman, A Série Animada (1992), episódio 22, “Um Favor ao Coringa”; depois, quando cambalhotei na graphic novel Louco Amor (1994), na qual se conta minha origem, meu trunfo de capturar o Batman – e quase eliminá-lo, se eu quisesse, coisa que o senhor C. jamais conseguiu! – e onde faturei os prêmios Eisner e Harvey, de melhor edição especial.

Owwwn! Olha lá, que fofo!, uma gravação antiga minha e do senhor C. Foi minha primeira aparição – quando eu nem existia nas HQs. É do episódio “Um Favor ao Coringa” (1992), da série animada (aquela mesma que passava no SBT, gente!).
“Louco Amor” (1994): minha biografia! ʕ•̫͡•ʔ❤ʕ•̫͡•ʔ
Mais da minha videoteca, galerinha! Cenas do episódio também de nome “Louco Amor”, da nova série animada do Bats (ep. 21, 1999).

Sabe como é, né gente? Versão feminina do sr. Coringa, dualidade entre a mocinha CDF e o louco existente em cada um de nós, feminilização da histeria “O Médico e O Monstro”, alusão às doidonas Rainha de Copas, de Alice no País das Maravilhas, e Rainha Vermelha, de Alice Através do Espelho, obras do sr. Lewis Carroll. Deixa eu contar um segredinho, gente: os (coisas fofas) Bruce Timm e Paul Dini – que me deram a chance de vir ao mundo, primeiro pelo desenho animado do Batman, depois pelos quadrinhos – pra me tirarem da sua cachola, se inspiraram no conceptista do meu Pudinzinho, o sr. Jerry Robinson. Sabem?, Jerry se inspirou na carta de baralho de curinga (shshsh! Além do filme “O Homem Que Ri” [1928], com Conrad Veidt), enquanto Timm e Dini na carta de baralho da rainha de ouros; por isso o brasão de ouro no meu traje e o nome “Quinn” lembrando o som de “queen”, “rainha”, além de ser um trocadilho com “arlequim”, personagem da comédia medieval italiana, e, claro!, meu nome, né? “Harleen Frances Quinzel”. Tamanhas referências como essas, docinhos, só poderiam mesmo chamar a atenção para mim, sim? Rsrsrs!

Hehehehe, hihihihi!

Ainda assim, meu “boom” só se deu 10 anos depois, no revamp dos artistas ginásticos Jeph Loeb, Jim Lee, Silêncio (2002). Falei “ginásticos” por trocadilho, já que sou uma ginasta também. Será que os leitores entenderão, meu bobo da corte?

(– Ah, explodam-se se não entenderam. Ficou ótimo! Ei, psiu! Bobinha, esqueceu a parte das feminazis…).

(– Xi, foi! Péra…).

Pois é, docinhos. Li por aí, umas feministas nerds (o.Õ) vêm gritando em blogs que me popularizei porque eu seria só mais um “objeto sexual apelador” para os meninos, e mais uma “oprimida personagem mulher” pelo senhor C.; que o elenco do Esquadrão Suicida tem duas outras gatíssimas, Magia (Cara Delevingne) e Katana (Karen Fukuhara), o que não há pra quê eu “roubar a cena”, e que a roupitcha da minha “miga” Margot Robbie é de “torcer o nariz”. Aqui estão umas – mostro mesmo as recalcadas, ó:

(´❛-❛`) 
凸(`0´)凸

Que feio! Nunca leram a meu respeito numa Super-Heróis Premium da vida, e já vão me taxando… Nem sabem que meu papai, o sr. Bruce Timm, disse em entrevista que gostou muito-muito do visual da lindinha Margot Robbie. Se ele, que é “O Cara”, aprovou o traje, quem são as feminazis pra reprovarem? Aqui pra vocês, ó!? 

“Já acabou”, feminazis? Tô é rindo de seus comentários sobre o modelito da Margot.

Sou sim uma sex symbol (e qual mulher não gosta de ser desejada?); me exibo e não disfarço, provoco e dou risada! Euzinha sou a projeção de um dos mais perigosos tipos de mulher! Hahahaha! Vocês feminazis se contorcem por não ser, e por eu ser uma representação do melhor do feminino no imaginário masculino. Mesmo assim, haha!, sou uma mulher de um homem só.

❝ Logo ficou claro pra mim que o Coringa, que sempre era descrito como ‘homicida’, ‘louco’, ‘alucinado’, era na verdade uma alma torturada, clamando por amor e aprovação; uma criança humilhada, perdida e ferida, tentando fazer o mundo rir de seus atos. E lá, como sempre, estava o hipócrita do Batman, determinado a tornar a vida miserável pro meu anjinho… Sim, eu admito: por mais antiprofissional que pareça, eu me apaixonei por meu paciente. Uma loucura❞ [1].
“Cara, crachá, cara crachá, cara crachá!”. Dra. psiquiatra Harleen Frances Quinzel: presente!

… Mas, sobre meu louco amor, não me julguem. Quem nunca cometeu uma loucura de amor? Tenho ralado “pacas” na minha carreira e tenho minhas cartas na manga, ao invés de ficar por aí falando mal dos meninos e mostrando os peitos na rua, tá? Ginasta da Universidade de Gotham, bolsista de medicina, psiquiatra do manicômio Asilo Arkham, assistente do Pudim (ui!), membro da Associação Secreta dos Supervilões, do Sexteto Secreto, das Sereias de Gotham, do Esquadrão Suicida, e os noobs, haters, ainda vêm berrar na rede que sou uma personagem sem personalidade, irrelevante, modinha que surgiu um dia desse. Umpf! Aqui pra vocês, ó!?

Mmuuaaahahahahahahahahahaha!!!!

(– Hahahaha! Adorei isso, colombina!).

(– Ai… Posso ser mais adorável se quiser, Pudinzinho…).

Ops, voltando pra cá! Daí não faltei em nenhum game com o Morcegão: Arkham Asylum (2009), Arkham City (2011), Arkham Origins (2013), Arkham Origins Blackgate (2013), Arkham Knight (2015), Injustice God Among Us (2013) e suas respectivas HQs; estive nas animações Flashpoint (2013), Batman: Assalto ao Arkham (2014), Batman & Arlequina (2017), Esquadrão Suicida, Acerto de Contas (2018) e Batman Ninja (2018); estive no reboot dos Novos 52 na revista do Esquadrão Suicida e nos especiais trimestrais com meu nomeeeeêêêêêê!!! De olho nesse meu brilhante trajeto, a DC (que não é boba!) me deu uma revista própria, e eu disse: “Vai ser um estouro!”, hahahaha! Até invadi a San Diego Comic-Con[2]… Hoje estou no DC Renascimento todo mês.

Não sou do MST nem do MSTS, mas eu não disse que invadi a Comic-Con? Taí a prova.

Peraí, só um minutinho… Deixe eu pegar aqui a cola que fiz… Ah, tá! “Os fatores que me levaram ao estrelato e à graça do público foram”… Tchanã!

 ♦ 1. Mudança de paradigmas. Depois do advento do realismo literário da Era Moderna, as fronteiras que separavam o bem e o mal, antagonista-protagonista-coadjuvante, o vilão, a mocinha e o herói, ficaram mais confusas, e por isso está cada vez mais difícil distinguir atos heroicos de atos vilanescos, por isso a onda pela preferência aos anti-heróis. Há quem me chame de bandida, há quem me chame de anti-heroína, por isso e pelo que sou, haha!

Psiu! Vê aqui 13 razões pra gostar de mim, ok?

♦ 2. Correlação com o Coringa. O fato de eu ser a versão feminina do serial killer mais aclamado dos gibis e por vivermos, eu e ele, uma relação perigosa, fetichista de amor e ódio, atiça os imaginários mais férteis ou reprimidos dentre o público, huumm… né Pudinzinho?

(– É, Pudinzona. Acresço ainda as suas generosas curvas em seus generosos trajes, hehehehe!).

Ainnn! Adoro meu Pudinzinho!

 ♦ 3. Tríade entre feminilidade-loucura-infantilidade. Li em um poeta medieval que uma mulher, de verdade, tem um quê de criança. Sou ainda mais: sou as duas coisas e ainda sou “meio” maluca, hahahaha! Que mulher não quer surtar de vez em quando?

Principalmente “naqueles dias” da TPM. Aí já viu, né?

 ♦ 4. Lapsos de normalidade. Ah, mas não sou doida o tempo todo, né Jokinho?

(– É. Só é normal enquanto dorme…).

Pago as minhas contas, me sustento sem ajuda de ninguém, amo e defendo o direito dos mais indefesos – os animais; adoro sair cazamigas. Acho que isso termina identificando muitas garotas comigo.

Magra de ruim mesmo…

 ♦ 5. Visual “teen”. As minas piram em meus modelitos, as novinhas se reconhecem em mim, na minha personalidade “rebelde” e nas roupas descoladas: xuxinhas, presilhas, delineador forte, maquiagem, primer e sombras chocantes, cabelos tingidos no estilo tie-dye, correntes, pulseiras, coleirinhas, corsets, botas, saias de prega, calça justa, tudo com estilo entre o punk e o psicodélico… Ufa! São tantos acessórios que me fazem ser uma referência na moda nerd feminina. Só vai dar eu daqui pra frente nos próximos carnavais, bailes à fantasia, halloween, convenções pop – xeque mate, baby!

Óia só quantas eu!

Bom, acho que enfim respondi a vocês, docinhos, o porquê de eu estar tão em alta (e não é por pouco, viu?) rsrsrs! Beijinho em vocês. E como se tem dito aí no Brasil, “beijinho no ombro” pros noobs, haters e pras feministas.

(– Como me saí, meu Pudinzinho?).

(– Um “estouro”, queridinha! Postando agora na internet…).

Oops!?

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[1]. Fala original da dra. Harleen Frances Quinzel quando se percebe atraída pelo Coringa na graphic novel “Louco Amor” e no episódio de mesmo nome na animação “Batman, A Nova Série Animada”.
[2]. San Diego Comic-Con é a maior convenção nerd do mundo, realizada por 4 dias em San Diego, Califórnia-EUA. No caso, a referência aqui é ao gibi Arlequina Invade a Comic Con International San Diego (2014, de Jimmy Palmiotti e Amanda Conner, ed. Panini, 44 págs.).

Wagner Ávlis

Crítico de histórias em quadrinhos, membro da Academia Maceioense de Letras, articulista e professor de língua portuguesa.