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Resenha | Fronteiras da Além, de Jayme Cortez

O leitor de quadrinhos nacional recebe um alento em meio ao momento conturbado em que vivemos, e é curioso que venha do horror. Publicada pela editora Pipoca e Nanquim, o volume “Fronteiras do Além”, antologia completa das histórias de terror de Jaime Cortez, é uma publicação histórica. A edição reúne histórias que antes só podiam ser encontradas em sebos especializados ou com uma busca homérica de porta em porta nas bancas de usados. A publicação conta ainda com materiais bônus que trazem informações valiosas sobre o processo de criação de um dos maiores quadrinistas do mercado brasileiro em toda a nossa história.

Jayme Cortez – Em seu nome artístico grafava o nome com Y -, ainda que celebrados por muitos em memória de sua arte soberba e relembrado por uma excepcional obra sobre desenho acabou não tendo o devido destaque nos últimos anos e seu trabalho em revistas e fanzines de terror acabou deixada de lado. Português de nascimento, desenvolveu sua carreira desde muito jovem tendo influências fortes do quadrinho europeu e, certamente, dos folhetins americanos. Em 1947, imigrou para o Brasil onde viria a colaborar com grandes nomes do quadrinho brasileiro. Mais notadamente, vale lembrar que aconselhou Maurício de Souza em início de carreira, o que rende nesta edição um prefácio do criador da “Turma da Mônica”.

Além disso, também colaborou como capista com dezenas de gigantes da nona arte brasileira, organizou exposições de quadrinhos e foi professor de artes em várias ocasiões. Não é pouco chama-lo de mestre. Felizmente, agora com o acabamento devido e um excelente trabalho de pesquisa, as histórias publicadas na “Mestres do Terror” e na “Revista Calafrios” podem ser guardadas e preservadas, servindo muito à história dos quadrinhos brasileiros e ao repertório dos leitores. As histórias de Cortez devem muito ao terror clássico da literatura e do cinema, com o mesmo tom e ritmo de obras como “Frankenstein” e “O homem invisível”, e é incrível que isso tenha sido feito com as limitações de espaço das publicações da época. Algumas das histórias são compostas de uma única página e dão show em muitas outras elaborações contemporâneas.

Suas influências clássicas não deixam, porém, de refletirem o seu tempo e espaço. Por exemplo, há aqui duas histórias, uma em que se faz referência a uma canção de Ozzy Osborne e outra que bebe de uma famosa canção popular do nordeste brasileiro. Tanto talento o fez vencer o Prêmio Jabuti em 1969 pela capa do livro “Barro blanco”, de José Mauro de Vasconcelos. Para muitos, sua arte de compara à de gênios como Moebius. Talvez pelo tema, após a leitura deste volume, o leitor talvez tenha sensações que evocam a fase Alan Moore de “Monstro do Pântano”.

Definitivamente, não é uma oportunidade a se perder.

 

Fronteiras do Além

Autor: Jayme Cortez
Ano: 2020
Editora Pipoca e Nanquim