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Resenha | Hellboy – Sementes da Destruição

Hellboy passou por maus bocados no cinema. Depois de uma longa peleja sobre um terceiro filme dirigido por Guilhermo Del Toro, o projeto por fim foi engavetado. Depois disso, rodou em várias mãos até estrear num reboot sofrível. Por isso, a republicação de “Sementes da Destruição”, na coleção histórica do personagem, pela editora Mythos vem em bom momento.

Temos aqui o surgimento do personagem título. Hellboy surge quando um grupo de cientistas e místicos da Alemanha Nazista invoca um demônio que seria responsável pelo fim do mundo. As coisas não saem como o planejado e o que surge é um pequeno bebê demônio que é encontrado pelos aliados e criado pelo doutor Trevor Bruttenholm. Tudo bem parecido com o início da primeira adaptação cinematográfica do personagem, e isso por que muitos dos elementos do primeiro filme foram adaptados desta história.

Temos aqui os parceiros Abe Sapien e Elizabeth Sherman atuando ao lado de Hellboy enquanto forças sombrias tentam terminar aquilo que foi iniciado pelo ritual em plena segunda guerra. Temos os monstros fortemente inspirados no universo de Lovecraft e também o senso de humor, mas aqui feito de uma forma bem diferente do que no filme de Del Toro. Lembro-me que quando Hellboy saiu, no distante 2004, O diretor mexicano foi comparado a George Lucas, mas com inclinações infernais. Esse tipo de comparação, para mim, sempre demonstrou que por mais que as inclinações estéticas fossem na direção do bizarro e grotesco, a adaptação penderia para um lado família.

O material base, escrito e desenhado por Mike Mignola, pouco tem de família. É uma história pesada e sombria, que não se preocupa em todo o tempo em parar e te explicar o que acontece. Muito do que o autor planejou estava guardado para edições futuras. E o tempo mostrou que valia a pena esperar.

Tudo em “Hellboy” parece ter uma história e cada objeto desenhado carrega em si algo a contar. Pode-se passar horas observando a arte, não numa busca por eastereggs, mas num exercício de imaginação. Em contraponto, há vários quadros onde o fundo é substituído por cores chapadas que são pensadas para contribuir com a cena. A arte de Mike Mignola é bem diferente de tudo que se fazia no início dos anos 1990. E por isso mesmo influenciou vários de seus pares nos anos seguintes. Seu traço é duro e ainda assim, caricato. Cada cena é cheia de energia e os cenários, quando feitos para deslumbrar, bastante bonitos. O uso de cores escuras e do preto para realçar o clima de filme de terror dos anos trinta e influência do expressionismo se fazem sentir a cada página.

Como introdução, é uma história perfeita, capaz de apresentar o personagens e manter segredos obscuros o bastante para atiçar o desejo de voltar a ler.

Hellboy – Edição histórica Vol. 1
Sementes da Destruição
Editora Mythos
2020