Colecionáveis

Série | Sessão Nostalgia Nerd – Os Superamigos

“Os Superamigos”, de Hanna-Barbera, revolucionaram a indústria de brinquedos de super-heróis, marcaram duas gerações e a minha vida!
Companheiros de viagem, meus bonecos Superpowers já andaram bastante comigo.

Confira a apresentação da Sessão Nostalgia Nerd

Saudações, amigos do Nerd Tatuado! Eu, Wagner, cumprindo o desafio da corrente Sessão Nostalgia Nerd, fiquei de dar o passo inicial. Meu item colecionável que mais possui valor sentimental e memória afetiva são meus bonecos da linha Superpowers Collection, da Kenner, produzidos em larga escala pelo mundo em 3 séries distintas, de 1984 a 1986.

No Brasil, foi a Estrela que produziu a linha a partir de 1987 durando até 1990. Nesse período a marca “Superpowers” ou “Superamigos” já era sucesso em audiência na TV e nos quadrinhos, com o lançamento da revista Superpowers da ed. Abril. Jogos, itens licenciados (como lancheiras, copos, camisas), propaganda de TV e dos gibis passaram a ser frequente em terra tupiniquim, até que a linha Superpowers, em 1990, chegou na minha cidade. Os bonecos vinham acompanhados de um minigibi com uma história do personagem.

Capa da edição nº 01 da revista em quadrinhos Superpowers (ed. Abril, 1986).
Vários Superpowers com seus minigibis que vinham dentro do encarte do boneco. Só consegui conservar os do Batman, do Robin e do Capitão Marvel.
Minha história com os Superamigos
O batmóvel – hiperconservado e com todos os mecanismos funcionando – na versão Superamigos, um dos itens mais cobiçados da franquia Superpowers. Arquivo pessoal.

Foi com a animação dos Superamigos, no programa Xou da Xuxa, que tive meu primeiro contato com a ideia de super-herói e, por tabela, com a DC, e fiquei admirado. Como extensão desse contato, recebi um gibi de mesmo título, tendo alguns super-heróis na capa, de sorte que um deles, azul com cinza, ocupava o primeiro plano: era Batman, o Homem-Morcego. Foi naquele momento que virei fã dos Superamigos, do personagem e seu leitor.

Em 1992, quando a linha Superpowers Collection da Estrela estava por encerrar, ganhei de presente meu primeiro Superamigo: o Superman. Na mesma noite, desajeitado, arremessei o boneco e a cabeça desprendeu-se do corpo; levei umas tabicadas da mamãe pela rudeza contra o brinquedo novinho, mas depois ela teve um diálogo – sim, as mães dos filhos geração-Y primeiro batiam pra depois conversar! – que mudou minha percepção sobre presentes, brinquedos e, seminalmente, do que viria a ser o que hoje chamamos de “nerdice”. O diálogo foi (mais ou menos) assim:

Superamigos nº 11 (ed. Abril, março de 1986), o primeiro gibi de super-heróis com que tive contato (c.1991) e a causa imediata de ter me tornado fã do Batman.
– Meu filhinho sabe por que apanhou?
– Porque quebrei o Superômi…
– A mãe consertou. Mas preste atenção: você acha que esse boneco veio até você como? Do céu?
– Não, mainha. Titia que gastou o dinheiro dela e comprou pra mim da loja.
– E você sabe quanto custou a sua tia?
– Não.
– Aí é que está, meu filho. Somos pobres, sua tia, eu, você. Um boneco desse custa muito dinheiro, coisa que você não entende como se faz pra ganhá-lo. Eu mesma, pra lhe dar alguma dignidade de criança, tenho de abrir mão de certas coisas; fazemos algum sacrifício, tiramos da feira, da nossa roupa, pra poder lhe dar a alegria de ter um brinquedo. Então, mesmo que não saiba como as coisas são, valorize e conserve tudo o que a gente der pra você, pois ali está um pouco de nós, do nosso esforço por lhe ver bem.

Foi um santo remédio. Tive quase todos os Superamigos e até hoje os tenho conservados comigo. Em 2016, um colega de Curitiba negociou comigo uma troca na qual obtive o Superpower do Capitão Marvel, que ia ser, em 1992, meu primeiro boneco da linha, mas que terminou sendo trocado na loja, de última hora, pelo Superman. Foram eles que me iniciaram, ainda criança, no mundo da cultura pop e da consciência de valorização ao que se ganha dos pais. Para mim, meus super-heróis oitentistas da Estrela são isto: um pequeno monumento que conservei em homenagem ao amor de minhas mães.

Os meus Superpowers conservados da infância (entre 1992/1993), ainda com articulações e mecanismos funcionando.
Foto de quando recebi meu Capitão Marvel em 2016, uma lacuna ressentida na minha nostalgia que só pude expurgar em recente. Confira aqui essa história.

Conheça todas as propagandas de TV (norte-americana e brasileira) da linha Superpowers.

Saiba mais da história da Superpowers Collection.

☛ Desafiada da próxima semana: Susy Ferreira.

Wagner Ávlis

Crítico de histórias em quadrinhos, membro da Academia Maceioense de Letras, articulista e professor de língua portuguesa.