Adão Negro – Crítica sem spoilers – A DC de volta ao jogo
O universo cinematográfico da DC comics (DCU) há anos tenta estabelecer um universo de filmes compartilhado e orgânico, nos mesmos moldes realizados de maneira tão exitosa pela rival Marvel, criando filmes e séries interligados e que consigam adaptar com fidelidade os maiores clássicos das HQs. Embora a empreitada da DC nos cinemas ainda não tenha encontrado seu caminho, e tenha produzido filmes muito ruins, eventualmente surgem alguns longas que surpreendem positivamente e Adão Negro certamente é um deles.
O filme que estreou nos cinemas em outubro de 2022 teve seu projeto iniciado no ano de 2014, já com Dwayne Johnson no projeto que encarnaria o personagem da DC como o grande vilão no filme do Shazam. Contudo os produtores da Warner Bros viram o grande potencial do personagem se interpretado por The Rock e aquilo que seria apenas uma participação menor evoluiu para um filme solo do anti-herói.
No longa que inicia-se com a história de origem do anti-herói, vemos que cinco mil anos após ter recebido dos deuses egípcios incríveis poderes para libertar o povo de Kahndaq da escravidão, Adão Negro foi aprisionado. Agora, uma vez liberto de sua tumba, ele está pronto para espalhar sua forma peculiar de justiça no mundo moderno.
O filme é um prato cheio para os fãs que curtem boas cenas de ação como a sequência mostrada logo na primeira aparição de The Rock, que nesse filme consegue emprestar ao personagem além de seu físico musculoso uma atuação coerente e convincente, fugindo um pouco daquele padrão que nos acostumamos a assistir nos filmes de ação protagonizados pelo ator.
Se The Rock consegue dar conta do recado na pele do protagonista vale também mencionar que quando a Sociedade da Justiça entra em cena, principalmente quando interagem com o Adão Negro, o filme é elevado a outro nível.
O grupo, que é uma espécie de Liga da Justiça alternativa, é liderado pelo Gavião Negro (excepcional atuação de Aldis Hodge), além de contar com a experiência e poderes místicos de Destino (Pierce Brosnan) e com os novatos Cyclone (Quintessa Swindell) e Esmaga-Átomo (vivido pelo ídolo teen Noah Centineo). Os poderes combinados dos membros da Sociedade da Justiça em ação produzem um belo espetáculo ao público, com cenas de lutas muito bem coreografadas, não obstante a quantidade excessiva de cenas em câmera lenta, uma marca registrada dos filmes da DC.
Vale destacar ainda a ótima química entre os personagens Adão e Gavião Negro, que interagem em grande parte do filme opondo suas personalidades distintas, o que pode ser bastante perigoso quando o diálogo não é o suficiente para a solução de um problema e coloca-se na equação um ser com o poder dos deuses e outro com uma clava pontiaguda e alto poder destrutivo.
A direção segura do espanhol Jaume Collet-Serra consegue imprimir ao longa um ritmo intenso na medida certa, permitindo que a história se desenvolva de maneira fluida, mesmo na ausência de explosões e batalhas campais.
O início do ato final traz um belo plot twist na história do anti-herói e dá ao público a possibilidade de compreender e identificar-se com e em suas motivações, fazendo com que sua trajetória de vingança torne-se uma verdadeira jornada de redenção.
Um dos poucos pontos negativos do filme é que a grande quantidade de personagens apresentados em um mesmo filme impede que o vilão tenha o destaque merecido e a ameaça que representa também soa menos impactante, devido à construção superficial do personagem. Mas se o vilão deixa a desejar no quesito profundidade, no tocante à ação essa falha é compensada com um clímax empolgante, com direito a frase de efeito e uma ótima cena pós-créditos
Adão Negro embora não contribua muito para a construção de um universo compartilhado, põe a DC de volta ao jogo com um filme de heróis como todo filme deveria ser, com muita ação, ótimas cenas de luta, boas atuações e uma história coerente e bem amarrada. Um filme que vale muito o ingresso e se precisar de mais alguma justificativa para assisti-lo, diga apenas que o homem de preto te mandou (você vai entender).