Crítica | Andor (2022)
Desde 2015, estamos vivendo uma nova era na galáxia, uma era de instabilidade. Desde que a Disney entrou de cabeça nas propriedades “Star Wars”, é difícil prever o que será feito e o que dará certo.
Sete anos depois do nascimento desse novo projeto, se olharmos com boa vontade, o saldo é até positivo. Tivemos boas obras e novos personagens marcantes apresentados, embora o legado de personagens antigos tenha decepcionado os fãs. No entanto, pela primeira vez desde então, uma obra escapa ao mesmo tempo do desejo e expectativas dos fãs e da obrigatoriedade em se alinhar ao tom da série. “Andor” surge como uma lufada de bom senso em uma franquia que já luta com sua própria sombra há anos.
Na trama, cinco anos antes dos acontecimentos de “Rogue One”, o espião rebelde Cassian Andor (Diego Luna) tem várias aventuras durante a Rebelião, passando por missões desafiadores para restaurar a esperança na galáxia contra o Império.
Tom e tempo próprios, sem deslizes
Quem acompanha nossas resenhas de episódios no Instagram, deve ter notado como essa série nos surpreendeu positivamente semana a semana. Ainda assim, não apenas uma vez repetimos que talvez esse não fosse o formato ideal. Uma vez que o ritmo da série pedia que os núcleos se desenvolvessem em partes mais coesas. A cada dois ou três episódios que se acumulavam, era como como se “Andor” nos apresentasse um especial ou filme para a TV, capaz de andar com a trama e nos envolver com os personagens de seus núcleos.
Independente das escolhas narrativas, as limitações do formato foram sendo superadas pela trama mais interessante que a saga “Star Wars” ofereceu em anos. Desse modo, não se apegando a absolutamente nenhum dogma narrativo – nem mesmo o do seu predecessor “Rogue One” – a série deixou de lado o misticismo dos Jedi e a grandiloquência da ópera espacial para tratar de opressão e rebelião da forma mais crua possível. O que temos aqui é um produto da pós- modernidade, um “Star Wars encontra a Nouveau roman“.
Dos vietcongues à opressão do renascimento do fascismo
George Lucas nunca escondeu suas posições políticas enquanto desenvolvia “Star Wars”. Engajado como muitos da sua geração pelo fim da Guerra do Vietnã, construiu toda sua saga como uma crítica ao imperialismo do próprio país. Quando retomou a saga no começo dos anos 2000, ganhou ares proféticos ao alertar contra a morte da democracia através das próprias estruturas democráticas.
Tudo isso de forma lúdica e entre briguinhas de espada laser. “Andor” dá outro passo, ao trazer essas discussões não apenas textualmente, mas esteticamente. A inclusão de Luna como produtor permite que este seja o produto menos americano de toda a série. Sai o olhar lúdico daqueles que “espalham a democracia pelo mundo” e entra o olhar de quem foi alvo dessa tutela “democrática”.
De muitas formas, “Andor” soa como a conclusão ideológica de tudo que Star Wars sempre foi capaz de ser, um raio de esperança para uma saga que não sabe o que quer ser quando, finalmente, crescer.