Críticas

Crítica | Pinóquio (2022)

De forma muito particular, a versão de “Pinóquio” concebida por Guilhermo Del Toro nos oferece lições valiosas. Não falo aqui das lições conservadoras que o conto original de Collodi, mas lições sobre narrativa e alma artística.

Pinóquio

Del Toro, em toda a sua carreira, nunca escondeu a importância que Pinóquio exerceu sobre sua mente infantil e seu espírito como criador. Essa trajetória se expressa aqui em uma produção que não apenas revisita o material original, mas o ressignifica, encontrando nela um certo espirítitp do temmpo, a atualizando para questões existenciais contemporâneas.

No papel, são as mesmas questões expressas em outro filme de mesmo título e mesma ambição, o live action do clássico da Disney lançado também este ano. Mas se lá havia o descuido com a produção e um final abrupto que não se justifica, aqui há tudo isso em seu perfeito oposto.

“Pinóquio” de Del Toro se aprofunda na finitude da vida, evidenciando assim sua beleza, ao mesmo tempo em que discute individualidade e aceitação de quem se é. Sem isso, não se pode ser “um menino de verdade”.

Há aqui, além disso, a beleza do Stop Motion, arte que por sí só já deveria valer um prêmio por ser realizada, ainda mais realizada com tanta perfeição. O estilo é valorizado pela estática de Del Toro, capaz de encontrar a beleza naquilo que muitos considerariam assustador, seja imagética ou conceitualmente.

Dentro desse escopo, talvez seja apenas Del Toro capaz de demonstrar como o conservadorismo da sociedade que gestou pinóquio fosse também responsável por gerar a juventude fascista italiana durante a ditatura de Mussolini e trazer essa crítica para filme de uma forma compreensível de nossos tempos.

Definitivamente, um clássico instantâneo.