EntrevistaFilmesHome

Entrevista| Túlio Starling o Fred de A Porta ao Lado

Confira a nossa entrevista com o ator Túlio Starling que faz o Fred no filme A Porta ao Lado.

Starling é integrante do elenco de peso do Teatro Oficina, companhia dirigida pelo lendário José Celso Martinez, onde atuou nas peças “Macumba Antropófaga” (2017), “Bacantes” (2017), “O Rei da Vela” (2018) e “Roda Viva” (2018-2020)

Tulio tem no cúrriculo filmes novelas e séres como Faroete Cabloco, Cidade Invisível, Pantanal o pastor e o guerrilheiro e agora em a porta ao lado

Sinopse

Rafa e Mari são casados e vivem um matrimônio tradicional e estável. A união segue tranquila até o dia em que o casal Fred e Isis se muda para o apartamento ao lado. Os novos vizinhos são adeptos de um relacionamento aberto, separam sexo de amor e decidiram não ter filhos. Esta forma de se relacionar desafia e provoca Mari, que começa a questionar o seu casamento

Fred de A Porta ao lado

Tuulio apesar do Fred seu personagem ser considerado o moderno, seja em relacionamentos como na vida ele também mostra um machismo velado como foi interpretar um personagem contraditório até mesmo nas próprias convicções?

TS: O contraditório é o que torna vivo qualquer personagem. Qualquer subjetividade é atravessada por contradições, é do fenômeno humano. Mas, dentro desse jeito, digamos assim, moderninho, eu trabalhei tanto pra que ele não fosse só um clichê do moderninho, quanto para que o machismo residisse na dubiedade e na vulnerabilidade de um homem que começa o filme apresentando uma autonomia emocional maior do que a que de fato ele tem. E

tudo isso dentro da dinâmica que o roteiro construiu, com a qual a gente tanto ri das piadas que se valem do clichê do homem moderninho, quanto adentra em situações limite que revelam as fragilidades e os vazios daqueles personagens. O filme vai ganhando densidade e naturalmente o personagem também.

Debatendo relacionamentos

O filme fala sobre relacionamentos, sobre amor e sobre as formas de amar sendo que atualmente existem muitos rótulos sobre isso desde como amar, quem amar por quem amar, sobre traições e claro sobre liberdades de escolhas, o filme ajuda a desmistificar e debater mais sobre como e quando falamos sobre amor?

TS: Acho que o filme constrói circunstâncias e subjetividades específicas pra exercitar essas perguntas que nos fazemos sobre o amor na contemporaneidade tanto no debate público quanto intimamente. Porque o debate público fica muito esvaziado se não nos comprometemos com essas perguntas de uma maneira mais honesta. É desde as coisas que cada um pensa consigo mesmo sobre desejo, liberdade, medos, afetos, culpa, relações de poder e solidão que o debate sobre o amor pode ganhar mais nuances e movimentos de curiosidade.

Amor um assunto sério

Antigamente se casar por amor verdadeiro não era uma constante, mas duradouro. mesmo tendo diversas traições Já nos tempos atuais viver muitos amores ou paixões intensas, mas que por muitas vezes são passageiros. A máxima que seja eterno enquanto dure é mais válida do que o amor infinito?

TS: Amor infinito? De que infinito estamos falando? Do infinito cósmico? Pelo contexto da pergunta eu acredito que não, mas numa outra entrevista podemos falar também (rs)… Acho que podemos concordar que a construção do amor romântico privilegiou e privilegia os homens, que sempre tiveram tutela social pra infidelidade ao passo que à mulher sobrava e às vezes ainda sobra a solidão, o trabalho doméstico, o cuidado com os filhos… Certas construções de amor romântico justificaram e ainda justificam inclusive feminicídio.

Existe até uma tipificação jurídica chamada “crime passional” e a jurisprudência que dava e ainda dá benefício ao homem que age em defesa da própria honra. Fazer essa referência à construção do amor em gerações anteriores exige que a gente pense que o patriarcado se valeu dessas construções românticas pra dar manutenção ao poder dos homens.

“Ah, mas meu avós foram tão felizes, meus pais estão juntos até hoje e são um casal incrível…”. Sim, o amor existe. O amor e seus meios de dar certo: amizade, respeito, conversa, sintonia, humor, admiração, respeito pelas individualidades… Mas isso não quer dizer que as estruturas hegemônicas de poder não tenham construído seus mecanismos de manutenção de poder. A lei é dos homens, a moral é forjada no machismo. Esses pressupostos são fundamentais pra gente se fazer aqui as perguntas que queremos fazer sobre o amor e, antes, fazer o delicado exercício de descobrir intimamente que perguntas são essas.

Pergunta nerd: poderia deixar uma mensagem para os seguidores do Nerd Tatuado convidando a assistir o filme e indicar um filme, uma série e um livro?

Karen Araki

Nerd baixinha sem tatoo, apaixonada e entusiasta da cultura pop, ama tanto cinema como livros, série e tv.