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Suicidas – Surpreendente suspense nacional

O gênero literário do suspense sempre teve nos autores internacionais os seus maiores expoentes, dos quais nomes como Agatha Christie e Sidney Sheldon foram, ao longo dos anos, alguns dos maiores responsáveis por difundirem as mais variadas e surpreendentes clássicos literários do gênero no imaginário popular.

A nível nacional esse tipo de literatura ainda não havia encontrado um autor que criasse com o grande público conexão equivalente àquela vista em terras estrangeiras, mas o jovem escritor e roteirista carioca Raphael Montes tem demonstrado enorme potencial para desequilibrar esse placar.

Imagem: Divulgação

O romance “Suicidas”, livro de estréia do autor, conta de forma visceral a trajetória de nove jovens encontrados mortos no porão da Cyrille’s House, a casa de campo da família de um dos jovens, após participarem de uma roleta russa, que ceifaria a vida de um dos participantes a cada rodada.

A trama, contada em três linhas narrativas, sendo uma antes uma durante e outra um ano após a realização da roleta russa, tem no jovem aspirante a escritor Alê o protagonista da história e o grande responsável por registrar, com grande riqueza de detalhes, todos os eventos ocorridos antes e durante a realização do jogo mortal.

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A grande habilidade de Raphael Montes na condução da trama fica bastante evidente na medida em que o leitor, embora já saiba de antemão que todos os protagonistas morrerão, ainda é surpreendido pelo desenrolar imprevisível da trama, seja durante a realização da roleta russa, ou até mesmo antes disso, quando as motivações dos jovens para tomarem parte no jogo é revelada ao público.

A construção dos personagens é muito cuidadosa e permite ao público compreender as circunstâncias que levaram jovens universitários, de classe média e alta  a participarem de um evento que culminaria com o fim de suas vidas.

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Com o sonho de tornar-se um grande escritor, e sabendo que a maior parte deles apenas alcança reconhecimento após a própria morte, Alê resolve participar da roleta russa com o propósito de registrar, em tempo real, todo o desenrolar do jogo, para que após a sua morte, seus registros sejam publicados e ele enfim tenha o devido reconhecimento por sua obra, ainda que post mortem.

Nesse contexto Alê e seu abastado amigo Zac, embora tenham personalidades muito diferentes são amigos desde a infância e juntos funcionam como verdadeiras molas propulsoras de todos os eventos que levaram ao trágico fim das vidas de nove pessoas.

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A terceira linha narrativa, que se passa um ano após a morte dos jovens no porão, ocorre numa sala na qual a delegada responsável pela investigação do caso reúne as mães dos suicidas para a leitura dos registros de Alê com o objetivo de juntas encontrarem respostas sobre a tragédia ocorrida com seus filhos.

A trama densa e recheada por muitas reviravoltas é dotada também de boas doses de humor negro que adequasse com perfeição ao clima da história que  mesmo tratando de um tema pesado como o suicídio consegue moderar o tom nesses momentos de alívio cômico mas sem perder o foco naquilo que se propõe a discutir.

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A conclusão da história além de surpreendente é original e muito criativa, brindando o leitor com uma conclusão satisfatória e que respeita a inteligência do público. Com seu romance de estréia Raphael Montes deixa sua marca como um dos melhores autores brasileiros da nova geração e demonstra, de forma irrefutável, que não precisamos ir muito longe para encontrarmos entretenimento literário do mais alto nível.

william

Direito por formação, Nerd e Otaku por inspiração, Cinéflo por concepção, Redator nas horas de solidão, Pai e marido por paixão e Cristão por convicção.