“Godzilla e Kong: O Novo Império” é espetáculo visual com roteiro vazio
Quando Godzilla recebeu sua primeira tentativa de vingar em solo americano, com o longa de Emmerich em 1998, tornou-se um consenso que era preciso reprimir cuidadosamente qualquer pensamento inteligente enquanto se assiste a um filme assim. O filme soava como um pastiche descuidado e que se levava a sério demais em comparação com qualquer filme japones do monstro. Pior do que isso, evidenciava a incapacidade americana de pensar em alguma criatura que ele não pudessem matar ao fim de sua trama.
Kong teve mais sorte. Mesmo com uma carreira cinematográfica menor que o lagarto atômico, sua fanquia sempre foi mais facilmente compreensível aos cineastas americanos. Dessa forma, mesmo nos piores exemplos de sua filmografia, havia um coração reconhecível ali. Assim, é compreensível que Adam Wingard, ao assumir o projeto de “Godzilla Vs Kong” e sua sequência agora em cartaz, tenha optado por colocar o gorila gigante como nosso condutor narrativo. O problema é que isso evidencia algo notável desde a fundação do chamado “Monsterverse”, a completa ausência da necessidade de um núcleo humano.
Um roteiro oco
Em “Godzilla e Kong: O Novo Império”, depois de terem se encontrado como inimigos em “Godzila vs Kong”, o poderoso Kong e o temível Godzilla se unem contra uma colossal ameaça mortal escondida no mundo dos humanos, que além de ameaçar sua própria existência também ameaça nossa espécie. Mergulhando profundamente nos mistérios da Ilha da Caveira e nas origens da Terra Oca, o filme irá explorar a antiga batalha de Titãs que ajudou a forjar esses seres extraordinários e os ligou à humanidade para sempre.
Não é um primor de trama, mas funciona. Já nas primeiras cenas, vemos Kong enfrentando criaturas gigantes em seu novo lar e temos algumas facilitações de roteiro para o que virá. Um misto de problemas dentários e solidão empurram o macaco de volta à humanidade por alguns instantes. É a desculpa para que os humanos façam uma investida até a Terra Oca para investigar sinais elétricos estranhos. Isso pois algo vem atormentando os sonhos de Jia (Kaylee Hottle), que compartilha um vínculo com Kong e agora vive com sua mãe adotiva (a retornada Rebecca Hall).
Com elas vão também os personagens de Brian Tyree Henry e um novo protagonista, interpretado por Dan Stevens. Enquanto isso, Godzilla sente a mesma interferência e inicia uma busca destrutiva por aumentar seu poder atômico, seja derrotando titãs ou “bebendo” usinas nucleares. Tudo isso, e muitos outros momentos a frente, precisamente narrados por personagens cujo papel e descrever exatamente aquilo que é mostrado na tela.
Pode não ser a pretensão do filme de 98, mas há algo igualmente incomodo aqui.
Condescendência vazia
Não se trata de desejar mais profundidade a este filme. É notável que o que tornou o último filme um sucesso foi a bela modulação de tom que o diretor Adam Wingard deu ao filme. Saiu de cena tanto o tom sombrio e devocional de Gareth Edwards em 2014 e em seu lugar chegou diversão que a péssima sequência de Michael Dougherty não conseguiu oferecer. “Godzilla Vs Kong” era também um espetáculo visual vazio que se bastava pelas belíssimas cenas de ação que moviam a trama adiante.
O erro aqui é dar o bastão controle remoto que avança a trama nas mãos de personagens guiados por um roteiro que não mais é superficial, mas sim chega a ser doloroso. Não há uma linha de diálogo feita ao núcleo humano que não seja desprezível, e nenhuma de suas ações qe não apareça como uma trapaça. Estão protegidos pelo roteiro e são privilegiados por ele. A todo momento que aparecem em cena, queremos que saiam, para ver mais dos animais em CGI.
Todo o filme parece feito para provar um ponto: deixem que macacos, lagartos e insetos falem com suas ações, movimentos e olhares. Isso basta para que possam destruir cidades em meio a uma trocação franca. Que uma sequencia possível – não há cena pós créditos – aprenda isso.