Críticas

Com “Iwájú”, Disney não se acanha em mergulha am afrofuturismo brilhante

A Disney já possui equipes de trabalho capazes de lidar bem com o afrofuturismo. Como os dois filmes “Pantera Negra” foram sucessos financeiros e fenômenos culturais, podemos esperar por mais. O afrofuturismo surgiu nas décadas de 70/80 como forma de expressar o potencial e as preocupações atuais da diáspora africana. Utilizou tecnologia especulativa, simbologia cultural africana e narrativas de Empoderamento, para imaginar uma estética única que celebra a identidade negra..

Em “Iwájú“, exploramos uma versão sci-fi de Lagos, uma paisagem transformada pela tecnologia em que as tensões sociais chegaram a um limite. Isto é bastante literal na trama, já que desde o início percebemos que os ricos mudaram-se para uma ilha, ostentando seus priviégios, enquanto todos os outros vivem no continente, contentando-se com o pouco que têm. O comentário se encerra aqui, se concentrando muito mais localmente do que analizando o contexto global da miséria e do capitalismo. Vê-se que os produtores tinham ideias, mas não puderam ir longe demais.

A trama

A narrativa acompanha a jovem Tola (interpretada por Simisola Gbadamosi), uma adolescente de uma área privilegiada de uma ilha. Tola ama e quer estar com seu pai, mas ele sempre parece ocupado. Ele é um dos grandes responsáveis pela evolução tecnológica do país, e acredita que “a tecnologia cria oportunidades”. Nenhum dos dois parece perceber, no entanto, que o mundo é mais complexo que imaginam. Na mesma casa trabalha o melhor amigo de Tola, Kole (Siji Soetan), que é um prodígio autodidata da tecnologia ao mesmo tempo em que passa muitas dificuldades para cuidar da mãe doente.

Enquanto um mergulha no mundo do outro, descobrem os segredos e perigos escondidos em seus diferentes mundos. Uma lição de vivência, relações sociais e reflexões muito importantes e necessárias, a série segue uma estética de quadrinhos baseada nas obras da empresa pan-africana de quadrinhos Kugali. Falando na equipe por trás da série, a empresa possui raízes pan-africanas e britânicas, mas o programa nunca ultrapassa os limites da cidade de Lagos. Fica então uma vontade de ver mais do que eles podem fazer nessa mesma toada.

Iwájú (Ou “o futuro”, em Iorubá)

Com isso, mesmo ao apontar um futuro brilhante em termos de tecnologia, seu futuro se parece muito com nosso presente. Até mesmo na fórmula Disney. Temos aqui os vilões carismáticos, o bichinho fofo e as tramas que vão e vem em lições de moral encantadoras. Nada que não conheçamos dos 100 anos do estúdio. A melhor maneira de apreciar esta minissérie é com um foco superficial – apreciando a animação vibrante em tons de joias, a trilha sonora de Afrobeats e o maravilhoso elenco de vozes nigerianas.

Embora não tenha a mesma inventividade explosiva do projeto de antologia Kizazi Moto da Disney, ou a mesma escala de produção de um “Pantera Negra” ou mesmo o já esquecido (infelizmente) “A Princesa e o Sapo”, “Iwájú” aponta para frente e parece ser mais um passo rumo a uma Disney mais plural.