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Em “Tales of the Empire” temos mergulho na espiritualidade de Star Wars

Normalmente é uma pésssima decisão pensar em uma obra a partir daquilo que ela poderia ter sido. Mas vou fazer isso por “Star Wars: Tales of the Empire“. Me permito apenas por que a obra é inerentemente ótima, e minha sugestão apenas elevaria um pouco mais o já me satisfez.

Na trama antológica, acompanhamos a jovem Morgan Elsbeth parte pela galáxia em busca de vingança contra os responsáveis por acabar com sua vida, a ex-Jedi Barriss Offee luta pela própria sobrevivência diante das transformações da galáxia.

Sendo uma história de origem para a primeira e um epílogo para a última, ambas as histórias falam sobre a influência do lado sombrio e complexificam as escolhas de personagens já conhecidas, mas pouco exploradas. Mas vindo na esteira de seu predecessor, “Tales of the Jedi”, um pequeno detalhe a coloca um pouco abaixo.

Uma história maior sendo contada

Se na série anterior, tivemos Dookan e Ashoka sendo trabalhados como um mote para entendermos a queda da era dos jedi, aqui a ordem dos episódios não nos permite ter a mesma amplitude para o Império. É como se na primeira tivessemos uma história maior sendo contada. Aqui, os episódios funcionam apenas como expansões.

E isso tratando de ritmo, de modo que bastava alterar a ordem dos episódios, levando o encerramento de Elsbeth para o fim. Feito isso, o efeito seria mais poderoso. Da forma como estão organizados, os episódios de de Morgan acabam sendo os mais decepcionantes dos seis episódios, não oferecendo muito mais que uma visão superficial de como ela chegou onde a conhecemos em “The Mandalorian“.

Isso não parecia ser o plano no papel pois o primeiro episódio, que aborda o massacre das irmãs da noite, se esforça em demonstrar que havia outro caminho para a personagem que não fosse a raiva. Muito interessante é demontrar que haviam em Dathomir uma segunda classe de bruxas, essas usuárias do lado da luz. Com este episódio e o seguinte, e que a personagem se oferece ao Império, teríamos o contraponto perfeito a ser realizado a seguir, com os três episódios de Barriss.

Na escuridão se pode olhar para a luz

O arco de Barriss em “The Clone Wars” é claramente um arco negativo. Espelhando a forma como muitos jedi se sentiam presos à guerra e desgostosos dos métodos jedi da época, era uma mostra muito tradicional de George Lucas sobre como a desilução leva a ruína.

Star Wars cresceu após isso, e mesmo em obras não celebradas como na trilogia sequel novos conceitos foram introduzidos. Em dado momento, em uma das melhores ideias apresentadas vemos Kylo Ren realizar uma espécie de prece, admitindo que sente a tentação da luz. Até então, só pensavamos no lado sombrio como uma tentação sussurrante.

Agora, anos antes no cânone, vemos a rápida queda de Barris e como o lado da luz continuou sussurrando em seus ouvidos, permitindo que ela pudesse crescer como uma mestra jedi e até mesmo que pudesse resgatar outros. Essa mensagem esperançosa, ainda que carregada de peso também representa Star Wars. Pena que, por ser o último episódio, traga tons sombrios para a trama. De novo, estivessem os episódios em ordem cronológica, como foram os da série anterior, teríamos ao fim o chamado de ajuda do episódio três, nos reforçando esta mensagem. Da forma que está, temos que fazer nós mesmos essa ligação.