Crítica | Andor: 2ª temporada (2025)
George Lucas sempre foi claro ao afirmar que Star Wars era, em essência, uma aventura para crianças. Mesmo nas fases mais sombrias da saga (como em A Vingança dos Sith) a narrativa sempre flertou com o épico juvenil. Mas Andor, série criada por Tony Gilroy, quebra esse padrão e apresenta, pela primeira vez, uma obra do universo Star Wars voltada explicitamente para o público adulto.
Ao contrário de outras produções que buscam parecer “maduras” com violência gráfica ou linguagem pesada, Andor aposta no tom dramático e político como seu diferencial. Com uma ambientação que mostra os bastidores da opressão imperial e o cotidiano de personagens à margem, a série se firma como um marco de sofisticação narrativa. Trata-se de uma obra que caminha pelas sombras da galáxia, sem sabres de luz ou profecias messiânicas – mas com personagens humanos, decisões difíceis e uma estética sóbria.
Cassian Andor: da marginalidade à rebelião
A trama acompanha a trajetória de Cassian Andor (Diego Luna), de ladrão de rua a revolucionário, entre os eventos que precedem o filme Rogue One. A segunda temporada finaliza esse arco, mesmo que o público já conheça seu desfecho trágico. Ainda assim, cada passo da jornada de Cassian é carregado de tensão, profundidade emocional e crítica social. Sabemos o fim, mas o caminho importa, e muito.
A série mostra como as rebeliões não nascem de explosões ou profecias, mas de pequenos gestos de resistência cotidiana. A célebre frase “rebeliões são construídas com base na esperança” é aqui contextualizada em ações de indivíduos comuns — pessoas comuns, mas que se arriscam todos os dias contra o Império. Com isso, Andor redefine o heroísmo no universo Star Wars.
Tony Gilroy conduz a narrativa com precisão, construindo personagens como Luthen Rael (Stellan Skarsgård), Kleya (Elizabeth Dilau), Dedra Meero e Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) com camadas, ambiguidade e propósito. As atuações são memoráveis, com destaque para Diego Luna, que entrega uma das performances mais sólidas da era Disney da franquia.
A maturidade que a franquia precisava
Andor se destaca por rejeitar os vícios da franquia nos últimos anos. A série não depende da Força ou de fan services constantes. Sua estrutura narrativa mais lenta e sua ênfase no desenvolvimento político e emocional dos personagens marcam uma ruptura com o que se espera de Star Wars. É um drama político de ficção científica, mais próximo de Blade Runner ou Battlestar Galactica do que de The Mandalorian.
Ainda assim, Star Wars está presente. A série equilibra muito bem a sobriedade com momentos icônicos, como o discurso de Mon Mothma, o encontro com uma curandeira da força, e cenas finais emocionalmente devastadoras que reafirmam a essência trágica do personagem-título.
O roteiro, a direção e a fotografia elevam Andor a um patamar que outras séries da franquia dificilmente alcançarão. É uma obra que não precisa de espetáculo para emocionar, ela aposta no silêncio, na tensão, nas decisões difíceis. Um verdadeiro novo padrão para o universo Star Wars.