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Caleidoscópio – Lealdade não tem preço!

Um engenhoso plano de vingança elaborado por um gênio do crime ao longo de 25 anos, envolvendo um ousado assalto com um grupo de comparsas habilidosos e pouquíssimo confiáveis. Embora essa sinopse, por si só, não chegue a ser exatamente original, a maneira como a história é apresentada é que configura o grande barato de Caleidoscópio, uma das séries de maior sucesso atualmente no catálogo da Netflix.
O tom inovador da série sugere a cada perfil uma ordem não linear para assistir aos episódios, o que possibilita ao espectador entrar na história em épocas distintas em relação ao grande roubo e vivenciar uma experiência única, já que existem mais de 40.000 combinações possíveis para se assistir ao programa, sendo o último episódio, intitulado “branco”, igualmente sugerido para todos os perfis. Cada episódio tem em seu título o nome de uma cor, em uma clara referência ao próprio título da série na qual podemos acompanhar a origem das motivações dos protagonistas, o planejamento detalhado do roubo, entender quem traiu e quem foi traído no desenrolar da trama e ainda acompanhar todas as consequências de um roubo quase perfeito.

Imagem: Divulgação

A trama acompanha a história de Ray Vernon, também conhecido como Leo Pap, interpretado pelo excelente ator Giancarlo Esposito (Braking Bad e The Boys), um pai de família amoroso, mas também um ladrão habilidoso que devido a trágicas circunstâncias de seu passado, decide elaborar um engenhoso plano de vingança contra o homem que considera responsável por todos os seus infortúnios, e que atualmente é um renomado empresário do ramo de segurança.
Embora o protagonista direcione toda sua frustração ao seu rival Grahan (Rufus Sewel) com o avanço da história fica claro que as escolhas questionáveis do protagonista é que contribuíram de forma significativa para todas as perdas que teve em sua vida e que talvez ele mesmo seja o grande vilão da história, embora seu ódio e um grande espírito de vingança não lhe permitam dar o braço a torcer.

Imagem: Divulgação

O plano elaborado por Ray envolve o roubo de 7 bilhões de dólares do interior de um cofre protegido com a mais alta tecnologia de segurança existente, algo similar ao que nos acostumamos a ver com Tom Cruise nos filmes da franquia “Missão: Impossível”, mas para isso ele terá que contar com a ajuda de uma equipe de ladrões tão talentosa quanto instável, uma combinação que revela-se bastante perigosa, ao ponto de quase implodir o plano mirabolante do assalto, como se as dificuldades envolvendo a logística do próprio crime já não representassem um desafio em si.
Um ponto interessante da trama é a existência de um explosivo triângulo amoroso no meio do roubo bilionário composto por Judy (Rosaline Elbay), Stan (Peter Mark Kendall) e Bob (Jai Courtney), sendo este último tão individualista e imprevisível que torna-se uma verdadeira bomba-relógio dentro de uma equipe cuja lealdade já não é lá muito o seu forte.

Imagem: Divulgação

A estrutura aleatória e pouco convencional da série traz ao expectador a possibilidade de entender o verdadeiro fio da meada em um episódio que cronologicamente situa-se no meio da história e não no final como seria o esperado. Por essa razão, e considerando-se que o expectador pode escolher a ordem em que vai assistir aos episódios, o último a ser assistido deve ser aquele no qual o roubo efetivamente ocorre (branco) e onde as principais perguntas encontram suas respostas.

A inovadora empreitada da gigante do streaming, embora enfrente alguns percalços no caminho, conseguiu fisgar o público com uma história surpreendente não apenas pelo seu formato não linear, mas também com uma direção segura, atuações convincentes e um roteiro tão bom que consegue garantir boas reviravoltas, mesmo quando o espectador já sabe de antemão como a trama irá terminar.

No fim das contas embora o roubo tenha sido efetivamente realizado e o protagonista tenha conseguido, de alguma forma, concretizar a sua vingança, ninguém (ou quase ninguém) alcança seu objetivo nessa trama em que a confiança, e principalmente a falta dela, podem custar a liberdade, a vida ou até mesmo 7 bilhões de dólares.

william

Direito por formação, Nerd e Otaku por inspiração, Cinéflo por concepção, Redator nas horas de solidão, Pai e marido por paixão e Cristão por convicção.