Críticas

Crítica | A gente se vê ontem

O novo filme A gente se vê ontem da Netflix com produção e Spike Lee (Infiltrado na Klan) trás ate nós uma mistura de ficção científica com problemas sociais e dilemas morais. A história se passa em torno de dois jovens negros, impulsiva Claudette ‘CJ’ (Eden Duncan-Smith) e o analítico Sebastian (Dante Crichlow)

Os dois são jovens-prodígio que estão no ensino médio e ao mesmo tempo trabalhando em uma invenção capaz de fazê-los voltar no tempo para a feira de ciência, tudo com o objetivo de ingressar no MIT, o renomado Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

O roteiro de Fredrica Bailey e Stefon Bristol (ele também dirige o filme) traz uma criativa mistura entre ciência, teorias reais sobre viagem no tempo, geração de energia, mas tudo sem muito aprofundamento, afinal não é um documentário e sim uma ficção.

No primeiro momento vimos realizando testes no seu invento que acaba realmente dando certo. Durante a primeira viagem devido ao temperamento de CJ eles acabam se envolvendo em um problema a qual não esperavam, trazendo a tona para o enredo os complicados problemas envolvendo viagens no tempo: a não-interferência e os paradoxos.

Ate nesse momento a trama apenas envolve-se com a questão da ficção, ou o experimento, depois gradativamente é apresentado ao real centro do filme. Aos poucos a vida dos jovens é mostrada e com isso a dura realidade, a violência policial aos jovens negros, questão que de fato não é só algo resumido aos Estados Unidos infelizmente essa realidade ocorre em todo mundo.

Em uma situação de incompreensão e preconceito policial a vida do irmão da CJ é tirada e isso faz com que a personagem se abale profundamente. Movida completamente pela dor da perda ela se esquece de todas as regras existentes sobre a viagem do tempo e utiliza o seu experimento para tentar salvar seu irmão, e quem poderia condenar? Quem não faria igual?

Durante todas suas tentativas infelizmente ela falha, pois sempre é gerado o efeito borboleta, quando ela salva o irmão outro próximo a ela morrem em seu lugar, o efeito acaba sempre acontecendo, de certa maneira nos faz pensar ela tenta mudar a ação localizada contra determinada pessoa e não o foco, então sempre ira ocorrer o mesmo ato o que ira mudar é com quem irá ser.

Pontos positivos:

  • Não há com como não concordar que a obra é realmente bem trabalhada quanto a questão visual, a fotografia é muito bonita trazendo a beleza dos bairros de subúrbios estadunidense.
  • A trilha sonora é um dos pontos a mais nessa trama, trazendo desde Reggae ate hip-hop o que deixa um dinamismo durante a história.
  • A mistura de ficção científica com problemas sociais e dilemas morais deu muito certo, durante o decorrer do filme você se pega pensando no que faria e se realmente eles estão certos e criar essa relação com o os expectadores é muito bom.
  • O fato de retratar a realidade negra, as manifestações, o descaso policial é algo muito real e que sabemos que infelizmente é muito cotidiano.

 

  • O FINAL!

A conclusão do filme é algo bom e ruim, é aquele que fim que cabe a interpretações. Depois de tudo que aconteceu, as viagens que deram errado, o Sebastian decide desistir e não tentar mais, porem CJ decide fazer mais uma viagem mesmo que sozinha. Isso cabe a interpretações, pois existem dois contextos para se entender. O final pode ser entendido de duas formas, a questão social e a questão pessoal.

  1. Questão social: se formos ver a questão social, podemos entender que a desistência do Sebastian seria igualada ao conformismo de algumas pessoas com o sistema, mesmo que eles o oprimam e que a insistência da CJ seria justamente aqueles poucos que se recusam a aceitar e que vai pra cima lutar e bater de frente atrás de mudanças.
  2. Questão Pessoal: se encararmos de forma pessoal, veremos que a insistência da CJ não seria algo legal, por mais que ela saiba as consequências que terão ela persiste e isso cria uma questão paralela do  que ela faria para salvar o irmão, será que ela sacrificaria uma terceira pessoa não próxima a ela para salvar o irmão? Lembrando que o efeito borboleta continua e que mudanças acarretariam em novas linhas temporais, será que nos também faríamos o mesmo?

Pontos negativos:

  • Em alguns aspectos achei que o roteiro forçou um pouco a barra e estereotipou alguns personagens, como a própria CJ, o comportamento dela por diversas vezes foge do explosivo para ‘a barraqueira’, coisas que vimos em diversos filmes, mulheres negras sendo caracterizadas como causadoras de problemas e briguentas.
  • A forma que a personalidade do Sebastian é retratada é algo incomodo, ele sempre é compassivo e sempre segue o que CJ quer e por mais que queiram incluir a ele o papel de ‘voz da consciência’ da explosiva garota é algo realmente incomodo.