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Crítica | Coração de Ferro (2025)

Desde o primeiro momento, “Coração de Ferro” declarou em alto e bom som como uma jovem brilhante ainda estaria a mercê de um mundo no qual privilégios valem mais do que o trabalho duro. É, infelizmente, também uma metáfora para sua própria série que luta bravamente para escapar das más escolhas dos executivos da Marvel Studios na fase 5 de seu universo cinematográfico. 

Desde sua estreia nos cinemas, Riri Williams demonstrou carisma e inteligência. Em sua série solo, a personagem retorna ao MIT com o sonho de finalizar um traje que revolucionaria os serviços de emergência. Sem verba ou apoio institucional, ela se vê obrigada a realizar tarefas para outros alunos, sendo expulsa pouco depois. De volta a Chicago e abalada por traumas do passado — a morte do padrasto e da melhor amiga — Riri tenta reconstruir sua vida a partir dos escombros emocionais e tecnológicos.

 

A série rapidamente mergulha os expectadores em uma estética de ritmo acelerado e visual intenso. Enquanto Riri é arrastada para o submundo criminal por Parker Robbins, o vilão Capuz (Anthony Ramos), os espectadores são tragados uma série que brinca esteticamente com o visual dos quadrinhos e narrativamente com o que eles tem de mais contemporâneo.

Entre a tecnologia e a magia: quando menos seria mais

A premissa de Coração de Ferro é forte, mas a execução sofre com excesso de subtramas e elementos mágicos mal integrados. Não é de hoje a Marvel recebe críticas sobre a construção de seus antagonistas. Capitão América teve o Caveira Vermelha e o Soldado Invernal como antagonistas, dois supersoldados. Homem de Ferro enfrentou o, bem, o Monge de Ferro e Whiplash em uma armadura. O Ápice para mim foi Homem Formiga contra Jaqueta Amarela.

O padrão é esse, quase sempre um herói enfrenta sua contraparte maligna. Mas mesmo quando fugimos desse tropo, as coisas ao menos ficam no seu mesmo campo. Tecnologia contra tecnologia, magia contra magia e isso sempre foi bem definido. 

Pela primeira vez, isso poderia ser totalmente rompido, com uma Riri confiante em suas habilidades – afinal, ela sabe ser capaz de ser melhor que Tony Stark – mas sendo obrigada a entender e lidar com um universo totalmente novo. Teríamos a chance de ver dilemas novos e termos respondidas perguntas que ninguém se atreveu a fazer. Infelizmente, as respostas ficam soterradas sob CGI, lutas apressadas e conexões fracas com a cronologia do MCU.

No meio disso, fica uma narrativa dinâmica, com personagens que agem como personagens, uma forma de se escrever que normalmente é criticada mas que se mostra muito divertida quando bem usada. Nos quadrinhos das últimas décadas, da Marvel e DC, há muitos autores que criam boas pérolas disso, como as boas histórias do “Homem-Aranha Ultimate” de Bendis ou a “Miss Marvel”, que já ganhou adaptação semelhante na telinha. 

A própria Iron Heart tem seu nascimento nessa era de novas histórias, divertidas e com vistas a atrair um novo público cativo para os quadrinhos. E é preciso admitir, por mais que estejamos falando de uma geração com pouca paciência para desenvolvimento de personagens, não são todos que vão entender bem a velocidade das viradas de chave que temos com alguns personagens por aqui. 

Ainda assim, Dominique Thorne voa

Apesar dos tropeços narrativos, Dominique Thorne é o coração da série. Sua interpretação de Riri mistura arrogância adolescente com uma dor latente, que se revela nos olhares e na postura tensa da personagem. É uma performance rica, que sustenta cenas emotivas mesmo quando o roteiro não a favorece.

Sua interação com Joe McGillicuddy (Alden Ehrenreich), um solitário apaixonado por tecnologia, traz os momentos mais autênticos e sensíveis da trama. Quando os dois estão juntos em cena, Coração de Ferro se transforma: deixa de ser apenas mais uma peça do tabuleiro Marvel para se tornar um drama íntimo sobre legado, identidade e perda.

O mesmo vale para as interações, excelentes, com Lyric Ross (Nathalie) e o restante do núcleo familiar de Riri. Infelizmente, esses momentos são raros. A série insiste em conectar Riri ao passado da franquia, sufocando a protagonista sob o peso de um MCU que já não parece saber onde quer chegar.

Potencial desperdiçado?

Ironheart tinha tudo para ser um marco: uma jovem mulher negra e genial assumindo um legado tecnológico com identidade própria. Mas a série vacila ao tentar agradar múltiplos públicos, encaixando Riri em fórmulas desgastadas do estúdio. No lugar de uma história de amadurecimento cheia de nuances, temos mais um produto amarrado ao universo expandido, com pressa e pouca alma… e não, isso não é um trocadilho com aquele final, a coisa mais decepcionante de toda essa jornada.

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