Crítica do filme A FARSA (Mascarade)
A FARSA
(Os filmes franceses sempre são recordados com uma memória apetitosa, aqui não sendo diferente, nos apresentando um Romance, criminoso e Investigativo que ainda consegue nos dar um final feliz mesmo ao meio de tanta melancolia)
SINOPSE: Adrien é um dançarino charmoso que, ao sofrer um acidente de moto, não pôde mais exercer sua atividade, caindo completamente no ócio. Sua vida muda quando conhece Margot, uma mulher golpista e chantagista.
Confira o trailer abaixo:
O ROMANCE NEM SEMPRE PRECISA SER SOBRE O CASAL.
O Público é acostumado a ver romances do tipo mais clichê, ou apenas aqueles de história mais simples, cujo, não há muito o que se pensar e o final é aqueles que esperamos, ou seja, o final feliz. De um tempo vem sendo nos apresentados algo mais fora da caixa, finais mais complexos ou até mesmo realistas onde o final ainda pode ser feliz, dependendo da sua perspectiva.
A Farsa nos traz uma inicialmente coadjuvante Margot (Marine Vacth) disfarçada, que no desenrolar de suas ações vira a mais pura protagonista lapidada por si própria, e com isso acabamos nos apaixonando, sentindo raiva, ciúmes, ficando aflitos e admirando a esperteza da mesma através dos olhos de seu parceiro Adrien (Pierre Niney) que assim como somos enganados pela narrativa do filme o tempo todo ele não só é ´´enganado“ como conduzido armadilha óbvia que ele mesmo ajudava a montar junto de sua companheira Margot.
Nem sempre, os romances precisam ter um final feliz, nem sempre são verdadeiros e nem sempre são recíprocos, ambos formam o casal perfeito, com sua loucura, forma destemida de viver, e com o como de forma apaixonada Adrien ajuda Margot a executar seus planos, move céus e terras pela mesma, enquanto a mesma se atrai cada vez mais por ele não por não ter mil coisas a oferecer a vida dela, não! Mas por ele prometer fazer de tudo para realizar o sonho dela, sonho esse que faz com que ele acabe como começou sua jornada.
Imagem disponibilizadas pela distribuidora para divulgação
O LABIRINTO DE VÁRIOS FINS QUE O ROTEIRO TEM, MAS COM UM DETALHE DIZENDO PARA ONDE VAI.
Como é gostoso ver um filme com tantos gêneros e narrativas em uma só, pois em determinadas vezes, há produções que sentimos falta de desenvolvimento dos personagens e empatia com eles, porém o roteiro de Nicolas Bedos deixa claro o que cada personagem é, temos a rica, infeliz e carente Martha (Isabelle Adjani) uma atriz que sofre da necessidade da aprovação porém em determinados momentos é mostrado em nuances discretos que a mesma só quer ser amada unicamente, pois vive a procura do amor verdadeiro em jovens que admiram seu trabalho e que sofrem de admiração pela mesma. Temos também, Simon (François Cluzet) um corretor cheio de ambições que faz a representatividade do homem hétero de idade que tem uma vida boa e ideal, porém basta aparecer uma mulher mais nova que ´´caia“ no seu charme e ele então vê que sua vida estava uma ´´tragédia“ e Julia (Laura Morante) que foi traída pelo marido, largada e usada por seu ex namorado Adrien e se vê com sua vida acabada pelos homens que passaram em sua vida.
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Cada personagem conectado um no outro de alguma forma, de forma calculada, e peculiar, no fim, de forma genial, todos eles são saídas desse labirinto que o roteiro nos envolve cuidadosamente sem fazer você perder o interesse e querendo saber cada vez mais onde todo aquele circo irá levar, até o meio do segundo ato, onde uma pequena frase de Margot ao contar sua história nos mostra onde será o fim daquilo.
Margot, nossa verdadeira protagonista e razão desses personagens se interligarem é uma mulher simples, que vive uma vida de forma um tanto diferente pois sonha com seu final feliz ao lado de sua filha, custando o que custar, sendo preciso o que for. Ela teve uma vida difícil e por motivos claros dentro do filme, odeia os homens, de todas as espécies, e durante o decorrer, você entende o porquê.
Imagem disponibilizadas pela distribuidora para divulgação
Cada ação tomada pela protagonista que nos aparece como uma mera coadjuvante, é o que leva ao desfecho do filme, que sim, é lindo, e deliciosamente ruim para aqueles que criaram e tem suas expectativas do que é o final feliz; assim como este texto que vos lê, o filme fica o tempo todo te intrigando com os acontecimentos e se esfregando em pontos que possam atiçar a sua curiosidade e te deixar preso em tela durante boa parte do tempo, até nos momentos que a poeira baixa no filme, o ventilador é ligado rapidamente para não te deixar pensando que aquilo não valera a pena.
A fotografia, como de costume em produções francesas, é fantástica, e não há um momento que você não admire a paisagem das ruas ´´simples“ dos locais ou o mar na sacada de uma das residências.
A atuação e sua atenção principal ficam de fato para Marine Vacth, que consegue ser versátil quando necessário e manipula a todos inclusive telespectador de forma simples e genial, de moça do subúrbio até a grande madame rica vinda de outro país, e é de se admirar como ela faz essa mulher dura, que fala de sua dor, mas sem se deixar chorar ou enfraquecer na nossa frente pois se tem algo que ela não quer é os olhares de pena.
A Farsa é uma daquelas pequenas surpresas gostosas de se receber e apreciar, na medida certa, para que não se perca o encanto pelo seu desfecho, tudo que aparenta levar a uma tragédia desde o começo, termina em um final feliz para aquela que era a única dentro da história, que entendia que tinha poder de fazer ser tudo sobre ela, mesmo que no fundo ela fizesse aquilo por uma pequena pessoa; já aqueles que ao decorrer se iludiram, ou criaram expectativas sobre seus finais, lhes foi dado apenas a dadiva do troco de tudo que um dia causaram a alguém.