Crítica | A Forma da Água
Guillermo Del Toro é o tipo de diretor que sabe bem o território que pisa, seus filmes tem uma marca registrada forte. Ele mescla vários elementos com o objetivo de traçar uma linha narrativa própria e com isso ele foi muito feliz em O Labirinto do Fauno, quando misturou elementos de literatura fantasiosa, folclore e até terror. Em A Forma da Água podemos perceber que vários desses pontos se repetem.
Vale observar que essas características não se iniciaram em 2006, antes mesmo do filme de sucesso e vencedor de vários prêmios na academia, A Espinha do Diabo (El espinazo del diablo no original) já demarcou vários traços narrativos que viriam a se repetir na filmografia do diretor.
Dito isso, não é uma tarefa difícil notar em A Forma da Água esses vários pontos iguais aos dois filmes citados anteriormente, isso porque o diretor propositalmente se mantém com marcas idênticas. O diferencial aqui é a maneira, a forma de abordar e conduzir a narrativa.
Agora ele sai de um filme fundamentalmente fantasioso para um ar mais de ficção científica, o que remete aos filmes da década de 50. Não é à toa que a trilha sonora é toda dessa época e junto a isso tem tons voltados para as fábulas (semelhança com o Fauno) e nesse meio todo tece uma reflexão sobre humanidade quando faz um contraponto entre a protagonista e o monstro.
A semelhança da construção da protagonista também se parece com O Labirinto do Fauno (para evitar spoiler não irei aprofundar na análise), mas vale ressaltar que a forma de abordar o monstro é diferente, ao passo que o Fauno era uma espécie de mentor sombrio, em A Forma da Água é um personagem mais trágico, mais voltado a um Frankenstein. O ponto forte é que o background do personagem é possível ser pensado sem que o diretor precise mostrar tudo explicitamente em tela.
Não é de espantar as treze indicações da academia para o Oscar desse ano, afinal o filme é todo construído para isso, o que mais uma vez deixa claro as habilidades de seu construtor. Inclusive, vale mencionar uma bela homenagem aos musicais, que é colocado de maneira cirúrgica no roteiro. Para uma pessoa mais atenta, vale assistir aos três filmes mencionados no texto, assim é possível perceber as marcas do diretor e notar a mensagem por trás das cenas, que em A Forma da Água deixa um questionamento muito interessante: afinal, nós somos humanos ou monstros?
Se você ainda não assistiu a essa belíssima obra, fique com água na boca (trocadilho) com esse trailer:
https://youtu.be/4pgIvmhUOw8