Crítica – Fortaleza Hotel
Pilar não acredita que o Brasil seja mais o seu lugar, mas luta com toda as armas que aprendeu a lutar aqui no país diante do desespero. Shin não quer voltar para a Coréia, mas trás consigo toda a sua cultura.
Nesse duplo protagonismo que “Fortaleza Hotel” se constrói. Pilar, interpretada excepcionalemente por Clébia Sousa é camareira no estabelecimento título e tem um sonho: ir morar na Irlanda. O filme abre, inclusive com uma cena de um curso de inglês onde a professora faz as vezes da dura imigração.
Já com tudo pronto, nos últimos dias, conhece Shin (Lee Young-Lan), uma coreana de meia-idade que vem ao Brasil para reconhecer o corpo do marido que morava e trabalhava por aqui. Nesse meio tempo, os planos de Shin é levar as cinzas de seu marido para Seul. E para se virar bem no Brasil, aproveitando que Pilar é fluente em inglês, a contrata para a acompanhar e ajudar na comunicação.
Longe dos cartões-postais
A partir daí, os planos das duas mulheres começam a dar errado. Situações cada vez mais complexas se desenham e uma forte ligação entre elas é construída. A amizade e solidariedade nascem como uma forma de solução para os problemas, ainda que repletas de complexidades.
Quem conhece o trabalho do diretor Armando Praça desde seu longa anterior, reconhece de imediato os caminhos que ele deseja trilhar. Com fortes raízes na escola tradicional do cinema brasileiro, o filme se descola das imagens esperadas de cartões postais e mesmo quando apresenta belas paisagens, o faz pela ótica do cidadão comum. Nada de deslumbramentos. Antes diso, o lugar do filme é mesmo as antesalas, os becos e as ruas.
Sobram planos longos e contemplativos, onde o que o personagem pensa e sente é revelado como uma pintura. Capaz de criar essas cenas de forma magnífica, o filme marca também – não necessariamente de forma positiva – pela ritmo do roteiro. As coisas podem escalar muito rápido e esfriar com a mesma velocidade. Um choque cultural, talvez.
Essa é a mistura do Brasil com a Coreia
Antes de tudo, é no choque de realidade entre as duas mulheres, na diferença entre as urgçencias de seus problemas, e a cumplicidade e amizade das duas que o filme brilha. Na atuação potente de duas atrizes fantásticas, encontramos detalhes e sutilezas que enchem os olhos. Apenas por isso, o filme já se paga. Ainda assim, existe mais uma coisa a ser dita.
Antes que tomemos a produção com uma análise fria e aristotélica do enredo, precisamos lembrar que sua mensagem é potente, ainda que sua forma tropece. Do mesmo modo que nos emocionamos com uma história bem contada, é possivel se encantar por uma emoção bem transmitida. Em um momento tão duro como o que vivemos, a mensagem da sororidade é um respiro