Crítica – Quando Falta o ar (2023)

Mesmo que tenha sido o momento mais marcante do século XXI até aqui, a pandemia iniciada em 2020 ainda não foi elaborada socialmente. De muitas formas, isso é feito pela arte. Em todo mundo, muitas produções foram realizadas sobre a pandemia e suas consequências. No Brasil, não é diferente.

Dirigido pelas irmãs Ana e Helena Petta, o longa-metragem “Quando Falta o Ar” procura representar pessoas que, no Brasil, estavam sendo esquecidos — seja pela política, na imprensa ou mesmo na sociedade. Vemos aqui as pessoas que vivem em comunidades afastadas, moradores de periferias e, o que considero ser o maior esforço deste filme,  o trabalho dos agentes de saúde, considerado em dado momento o maior trunfo brasileiro contra a doença, minado por políticas publicas ineficiente.

Há muitas críticas que podem ser feitas a algumas escolhas que o documentário toma. Como a longa exposição de momentos de sofrimento filmados “de forma crua”. O filme busca esvaziar-se da tentativa de dizer algo, tomando uma posição de mostrar uma realidade que diz mais sobre si mesma do que o filme seria capaz. Poderia funcionar, mas para os propósitos que o filme parece se propor, não funciona muito bem.

A julgar pelo tom da divulgação e por cartelas que abrem e fecham o filme, ele parece se colocar como uma seta que busca alcançar o outro. Revelar a importância do SUS não é algo que se destina a quem procuraria este documentário, se destina a quem não conhece a importância do nosso sistema de saúde. Este público não será tocado pela realidade.

Mas isso não torna o filme um poço de erros, já que ele realiza muito bem outro aspecto da arte documental, muito consolidada também na forma que este documentário escolhe. Durante toda a exibição, temos um registro poderoso de como o SUS foi essencial em todas as etapas de combate ao corona vírus, desde a prevenção até os momentos mais difíceis em face da morte.

Não por menos, todo o mundo esperava aprender com a resposta dos nossos agentes de saúde. Essa ajuda que tornou-se uma guerra contra a pós-verdade e os complôs políticos. Nos detalhes, “Quando Falta o Ar”  mostra a força que tínhamos trabalhando ao nosso favor e que impedimos de nos ajudar.