Críticas

Crítica | Quarteto Fantástico: Primeiros Passos

Com uma rápida olhada, tudo que compõe “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos” está certo. Não há problemas quando olhamos para o plano no papel: um elenco competente e carismático? Check. Uma premissa interessante  com um bom conflito: Check. Personagens conhecidos e queridos pelo público: Check. Boas cenas de drama e ação? Check e check. Tudo certo, mas algo parece errado. 

Enquanto assistia a minha sessão no cinema (um tanto atrasado no bonde do hype, como podem perceber pela data dessa publicação), não conseguia compreender por que eu não estava empolgado como meus colegas de sessão. Até que o filme acabou e a primeira cena pós-créditos apareceu. Alguns do público ficaram genuínamente espantado e empolgados com o aparecimento de certo personagem antagonista, que já está anunciado para um futuro próximo com ator declarado e até filme com seu nome do título. Parte do público na minha sessão não sabia e essa revelação — ainda que parcial na tela — os acertou em cheio. “Ah, o fime foi para eles”, eu pensei. E tudo fez sentido. 

Bonitinho, mas ordinário

A estreia oficial do Quarteto Fantástico no MCU finalmente chegou com Primeiros Passos, e o resultado é uma mistura até que bem acabada de comédia dramática, ficção científica e nostalgia visual. Sob direção de Matt Shakman, o filme apresenta versões carismáticas e bem construídas de Reed Richards (Pedro Pascal), Sue Storm (Vanessa Kirby), Johnny Storm (Joseph Quinn) e Ben Grimm (Ebon Moss-Bachrach), em uma narrativa que funciona melhor como drama familiar do que como épico de super-heróis.

Vanessa Kirby brilha como Sue, entregando uma performance marcante que equilibra força e vulnerabilidade. É ótimo ver Sue não só liderando o time em várias cenas de ação, como também em seus desafios com relação à maternidade. Pascal, por sua vez, interpreta um Reed contido, mas multifacetado, trazendo à tona tanto o cientista racional quanto o homem diante do desconhecido. Sua química com Kirby dá alma ao filme, reforçando o tema central: família.

A ambientação da Terra 828, com seu visual jetsons retrofuturista dos anos 60, é um dos pontos altos do filme, reforçando a originalidade estética sem sobrecarregar a narrativa.

É de longe o aspecto mais interessante do filme. 

Um fim que nunca chega e um final que não é final

 

Mas é com a chegada iminente de Galactus que, apesar do bom desenvolvimento dos personagens, o filme tropeça quando força elementos grandiosos típicos do gênero. Os momentos mais fracos são justamente aqueles que tentam lembrar que se trata de um filme do MCU — como os conflitos globais que soam genéricos e o inevitável “teaser” para os próximos capítulos da Fase 6.

Tudo isso expõe as fragilidades do roteiro e revelam como o enredo avança sem profundidade. Num péssimo padrão do gênero, os vilões acabam sendo facilmente derrotados, o filme falha em criar qualquer tipo de conflito significativo ao produzir um “deus ex machina” após o outro. A sensação vendo o filme é que, após tanto desgaste do cinema de super-heróis, o fim do mundo se tornou rotina. A chegada iminente de Galactus deveria causar impacto, mas soa como mais do mesmo. 

Como crítica construtiva: o MCU precisa voltar a investir em apostas menores, histórias mais humanas e desafios que explorem o lado psicológico e moral de seus protagonistas, como até parecia que faria, antes que tudo se tornasse uma luta entre deuses… ainda que um deles seja apenas um bebê.