Crítica | Senhor dos Anéis: Anéis de Poder (2022)
Uma boa forma de começar a análise de “Anéis de Poder” é a partir de sua abertura. Em uma sequencia composta pela técnica conhecida como cimática, em que a vibração de um som forma desenhos em uma superfície, é apresentado o Ainulindalë, a Música dos Ainur.
É um retorno pujante à Terra Média, graças ao cuidado visual proporcionado por um bilionário aporte financeiro e pelo carinho da equipe envolvida. Imediatamente, para quem começa a assistir o seriado, é possível sentir a familiaridade com os temas de Howard Shore.
Pouco a pouco vamos vendo nomes conhecidos: Galadriel, Elrond, Isildur e claro, Sauron. Mas quem é Sauron?
Mistérios e expectativas
Tratado como o grande trunfo dessa temporada, o jogo narrativo de gato e rato se deu através da dúvida de quem seria o grande vilão da produção. Sauron passou três longos filmes representado apenas como um olho flamejante, lançando seu perigo através de outros que os seguiam.
Mesmo nas poucas passagens que o vimos em sua forma física imponente, estava coberto por uma enorme armadura que escondia seu rosto.
Assim, roteiro da série se diverte em colocar dúvidas ao longo de seus oito episódios apontando em pistas falsas. Dessa forma, a tensão se constrói com o mal vindo de todas as direções. Por exemplo, seria o gigante responsável pela corrupção da Terra? Por outro lado, será o rei perdido das Terras do Sul quem ele diz ser? E quem são as estranhas mulheres de branco com um cartaz “sou o vilão estampado na testa”? Enfim, o jogo está formado para construir o engajamento dos lançamentos semanais.
Fé, amizade e um tantinho de lutinha de espadas
Os fãs mais obcecados de Tolkien tratam sua obra quase como uma religião. Portanto, é compreensível que se fechem mesmo para os acenos mais claros na direção do que o autor buscou escrever.
As mensagens de “Senhor dos Anéis” perpassam os valores que eram caros ao autor, artisticamente e moralmente. Crítico ferrenho de alegorias, evitou ao máximo trabalhar com elas, buscando antes disso algumas verdades morais que julgava absolutas.
Na questão de evitar alegorias, não se deu muito bem (conversa pra outro dia), mas seu valores estão bem presentes nos livros. Da mesma forma, e para o desespero dos fanáticos, o mesmo ocorre na série. A fé de uma pequena Pé-Peludo (ancestrais dos Hobbits), o poder da amizade entre um elfo e um anão e a busca por justiça contra tudo aquilo que é cruel e imoral está presente na história.
Naturalmente, esses temas não andam sozinhos. Há momentos complicados na série, como o momento em Galadriel ganha contornos de supremacia ao falar com o rei do Orques e reafirma o poder e pureza dos Elfos. A eterna contradição de elementos racistas presentes na obra de um homem que politicamente se colocou contra o mais racista dos regimes na Segunda Guerra. Não por menos, um número expressivo de “fãs” reitera essas mesmas contradições.
No fim, é possível perceber os valores e os deméritos de “Os Anéis de Poder” que já se tornou uma das melhores produções de seu gênero na Tv. E isso mesmo para quem prefere fechar os olhos para o que é dito, basta ver só as lutinhas. Já vale a pena.
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