Crítica – The Boys 3ª Temporada (2022)
Observando atentamente a estrutura da terceira temporada de “The Boys“, percebemos que toda a viagem dessa temporada mudou tudo para que tudo permanecesse igual na vida dos personagens. No entanto, quando observamos com atenção tudo que o novo ano trouxe, então podemos ver que a série deu passos enormes para amadurecer sua trama e enriquecer tudo que já existia de promissor antes.
O monstro fora da gaiola
Antes de tudo, podemos dizer que a série finalmente se emancipou dos quadrinhos. Depois de ter compreendido muito bem o material base, com seus acertos e erros, “The Boys” refinou o que ali havia de melhor.
Os comentários políticos estão mais ácidos, ecoando de forma poderosa não apenas eventos claros recentes (a invasão do capitólio, o negacionismo da pandemia, o assassinato da população negra por forças policiais), mas vai além. Há aqui uma tônica forte de crítica ao fisiologismo político, ao populismo e o poder das corporações que vai muito além das piadas. Além disso, finalmente a série mostra como tudo isso é a mistura instável que pode se incendiar rapidamente em um fascismo aberto.
A adição da presença do Soldier Boy (Jensen Ackles) como um contraponto ao Capitão Pátria mostra como os tempos podem mudar, mas que os monstros seguem os mesmos. Em seguida, depois de consolidar essa mensagem, mostra que os monstros ainda estão em gestação num final impactante que esconde a crueldade em um sorriso.
Ainda assim, depois do fim pesado da última temporada, de uma forma estranha em meio a todo o caos, aqui temos alguns lampejos de esperança, existente na esperança de Hughie e especialmente nas lições que Anne e Maeve compartilham.
“Eu saltava, você pode voar”
Todos os personagens cresceram muito nesta temporada, mas é no arco da Luz Estrela que mais se viu um grito de protesto. Não o protesto amorfo, fruto da ignorância e da perda de um lugar no mundo, mas da auto afirmação e da importância de se posicionar do lado certo.
Em menor grau no grande espectro das coisas, mas igualmente forte, é a mesma lição que Kimiko ensina ao Francês. Mesmo que a trama os tenha escantiado por algum tempo, no fim sua história é tocante. Admito que não esperava isso da temporada que prometeu o “Herogarsm“.
Vale separar sobre este episódio uma pequena nota. Tão alardeado nas redes sociais como um evento, e talvez um dos melhores episódios de toda série, é muito mais que prometeu. Na verdade, podemos tomar este episódio como um verdadeiro ponto de virada.
Busquei cobre, encontrei ouro
Tantos no público reclamaram que a exposição da “supersuruba” era menos um filme pornô do que esperavam. “The Boys” ensinando ao publico adulto o que é uma série adulta e que isso não é nada demais. Se fosse só isso já seria o melhor produto cultural baseado em super heróis em muito tempo.
Mas não apenas isso, em meio a essa forçosa superação da adolescencia tardia que a própria série experimenta, temos trabalhada de maneira incrível o tema da paternidade. Em tantos momentos da temporada isso apareceu. Seja Billy Bruto em conflito ao tentar ser um pai para o filho de sua esposa e lidando com seu próprios fantasmas. Ou então na descoberta chocante da temporada. Seja na relação de Leitinho com a filha ou mesmo em aspectos medonhos dos planos do Pátria para Maeve.
É incrível como “The Boys” conseguiu crescer, apontando dedos para feridas muito para além da sátira e finalmente encontrando sua postura, técnica e conceitualmente. Estarei esperando ansioso pelo que virá no futuro.
The Boys (3 Temporada)
EUA – 2022
Dirigido por Philip Sgriccia
Duração: 455 minutos
Classificação 18 – Não recomendado para menores de 18 anos