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Divertida Mente 2 não alcança o original, mas também não precisa

No mundo pré-pandemia, quando os cinemas pareciam se tornar um tsunami de dinheiro, a Pixar alcançou dois êxitos fantásticos de bilheteria. Em 2018, com “Os Incríveis 2” e em 2019 com “Toy Story 4” a empresa abocanhou mais de 2 bilhões de dólares mundo afora. O mundo era um lugar mais simples e tranquilo.

Quase 5 anos depois do último grande sucesso, a empresa agora amarga uma reação negativa com o público. Mesmo que a maior parte de suas produções recentes tenham qualidade, as decisões comerciais da empresa e da Disney para com ela tornaram turva uma relação que parecia ganha. A Pixar, pela primeira vez em décadas, parece precisar se provar junto ao público que cativou. “Divertida Mente 2” é, portanto, um filme que busca agir como uma ponte. Tenta pegar todos os públicos com carinho e bom gosto. E consegue.

Novas e complexas emoções

Divertidamente 2

Primeiramente, na trama do novo filme, encontramos Riley mais velha, passando pela tão temida adolescência. Junto com o amadurecimento, a sala de controle também está passando por uma adaptação para dar lugar a algo totalmente inesperado: novas emoções. As já conhecidas, Alegria, Raiva, Medo, Nojinho e Tristeza não têm certeza de como se sentir quando novos inquilinos chegam ao local.

Posso dizer com sinceridade que eu ri alto em diversos momentos do filme. E também posso dizer que eu chorei. Claro, eu sou um chorão. Não é preciso muito ara me trazer lágrimas, e a Pixar ainda sabe quais botões apertar. Tudo que faz “Divertida Mente” ser um filme excepcional está aqui. A complexidade de tratar das emoções humanas parece brincadeira de criança quando comparada ao trabalho primoroso em se comunicar essa complexidade com leveza. Não há aqui um momento forte como a perda do amigo imaginário ou o choro aliviado do primeiro filme, mas há a lição sobre a ansiedade e a uma forma madura de lidar com a nostalgia.

O problema dessa sequência é ser, de muitas formas convencionais, uma sequência. Temos aqui a síndrome do mais e maior, e ainda que não prejudique o olhar investido, pesa na análise séria o fato que temos muito mais personagens dessa vez. Com pouco mais de uma hora e meia, não há tempo para todos. Ainda assim, este é facilmente o melhor filme da Pixar que já vi em muitos, muitos anos.

Mais do mesmo, no entanto…

Entender o mergulho profundo que o novo diretor Kelsey Mann  busca em seu filme vai além das telas. Afinal, aqui ele substituiu Pete Docter, o atual mandachuva da Pixar e um dos diretores mais celebrados do estúdio. No roteiro que escreveu junto com Meg LeFauve, vemos os mesmo passos do filme anterior. Alegria enra em conflito com outra emoção, isso faz com que ela saia da sala de controle e precise encontrar uma forma de voltar. No processo, aprendemos a importante de lidar com todas as nossas emoções em lugar de suprimi-las.

O caminho todo é conhecido e você sabe quando virão as batidas. Se algo parece que vai dar errado, então o problema acontece. Se algo parece feito para te emocionar, você se emociona. Nessa altura do campeonato, deveríamos estar preparados e este filme não deveria funcionar. Mas funciona. Isso acontece pela capacidade incrível que a produção tem em se transmutar em um melancólico deslumbramento conceitual sobre uma garota que também é uma prova de um dos prazeres do cinema: o envolvimento de nossas emoções.

Todos os manuais e normas da crítica podem dizer que há muita coisa em “Divertida Mente 2” que o prejudica, mas no fim ele é um filme que continua tendo o mais importante, uma verdadeira identidade capaz de contar essa historia com emoções verdadeiras. Sem trocadilhos.