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Indicados ao Oscar de melhor filme 2023 – Nada de novo no front

O longa disponibilizado pelo catálogo da Netflix e que é a releitura do clássico homônimo e vencedor do Oscar de melhor filme em 1930, tenta repetir o êxito cinematográfico de seu antecessor, contando para isso com 9 indicações ao Oscar desse ano, dentre os quais estão o de melhor filme, filme internacional, fotografia e efeitos visuais.

No filme acompanhamos a trajetória do jovem Paul (Felix Kammerer) e seus amigos ao serem convocados para atuarem na linha de frente durante a primeira guerra mundial. A visão idealista e superficial que os jovens possuem acerca do conflito é algo tão descolado da realidade que poucos minutos no campo de batalha já são suficientes para delinear as claras diferenças entre expectativa e realidade.

Imagem: Divulgação

A belíssima fotografia é um dos grandes destaques no longa do diretor alemão Edward Berger que faz questão de a todo momento enfatizar o contraste existente entre os belíssimos cenários naturais e o horror produzido pela visão de incontáveis corpos mutilados no campo de batalha.

O filme nitidamente não possui a intenção de romantizar o conflito nem de poupar o expectador de conhecer o lado mais devastador do conflito de trincheiras da primeira grande guerra e também nesse ponto vale destacar o trabalho impecável das equipes de maquiagem e efeitos visuais do filme que conseguem empregar uma considerável dose de realismo aos ferimentos e amputações característicos desse tipo de produção.

Imagem: Divulgação

Com o desenrolar natural do conflito e o aumento diário no número de baixas fica claro ao expectador o baixíssimo valor da vida de um soldado durante a guerra, cujas decisões táticas são tomadas por comandantes completamente alheios ao sofrimento da tropa no campo de batalha. Aliás, a disparidade entre a miséria do campo de batalha e o conforto do gabinete dos generais parece ter servido de inspiração para a música da Legião Urbana “A canção do senhor da guerra” na qual Renato Russo descreve com precisão o abismo existente entre essas duas realidades vislumbradas no filme.

Ao final da projeção ressai nítida a mudança no olhar do protagonista que depois de ter presenciado tantas atrocidades em meio ao conflito parece nem mais se surpreender ao se deparar com membros amputados e vísceras expostas de seus companheiros, como se sua sensibilidade tivesse sido anestesiada e o ato de tirar a vida de alguém tivesse se tornado algo automático.

Imagem: Divulgação

Nada de novo no front é um ótimo filme, com boas atuações além de uma fotografia excelente e uma produção caprichada mas mesmo com todos os seus acertos é difícil proporcionar ao público algum tipo de experiência relevante em um filme que reproduz, como tantos outros, os eventos da primeira guerra mundial.

O diferencial do longa é mostrar o ponto de vista dos soldados alemães, sempre vistos como os vilões da história, e que aqui, embora não sejam pintados exatamente como heróis, são apresentados como peças descartáveis num mórbido jogo de tabuleiro, o que revela que independente de qual lado se esteja em uma guerra todos são irremediavelmente perdedores.

william

Direito por formação, Nerd e Otaku por inspiração, Cinéflo por concepção, Redator nas horas de solidão, Pai e marido por paixão e Cristão por convicção.