Críticas

Lobisomen | Crítica (2025)

Qualquer fã de filmes de monstro, esse gênero tão habilmente dominado pela Universal Pictures entre os anos 1930 e 1940, sabe que o “Lobisomem” possui ali uma posição de realeza. Junto ao Drácula e Frankenstein, está firmada ali uma trindade de monstros clássicos que abriram portas para muitos outros. O filme original de George Waggner já tinha nele questões muito profundas sobre bem e mal, e talvez sem a percepção total de seus realizadores, da metáfora da fera como uma figura sombria do masculino. O novo filme, dirigido por Leigh Whannell, busca colocar esses elementos de novo em primeiro plano na tela, com uma roupagem mais consciente, bem nos moldes do que ele mesmo fez com “O Homem Invisível (2020) alguns anos atrás, mas que, no entanto, não consegue entregar o esperado.

O filme acaba sendo uma vítima de si mesmo. Com o histórico do diretor ao refilmar um clássico do terror e com uma criatura icônica como seu protagonista, muita expectativa foi posta sobre a produção. Quando o material promocional começou a sair, a tensão palpável na tela prometia muito. Porém, diferente do esperado, i que temos são reciclagens desses temas interessantes que permeiam a mitologia da licantropia que, mesmo capaz de explorar suas alegorias, parece estar continuamente se repetindo no que tem a dizer.

Sendo, portanto uma repetição temática, resta a estética, na qual o cenário quase único durante toda a produção perde muito para sua referência original e ainda mais para  o remake absoluto de 2010, com Benicio del Toro como protagonista.  Os sombrios e fumaçentos cenários góticos dão lugar aqui a uma floresta obscura e tensa, onde um monstro cerca uma cabana isolada por dentro e por fora.

Estrelado por Christopher Abbott, Lobisomem obviamente trata do perigo da ira masculina e procura dar destaque para a esposa do protagonista, Charlotte (Julia Garner), mas nunca consegue de fato. Na verdade, durante a sessão muitas vezes pensei que a postura de predador foi muito melhor representada no próprio “Homem Invisível” do que aqui.

Mesmo que trabalhe aqui a mesma noção da violência ensinada e transmitida de homens para os seus filhos, e tenha o  mérito de não fazer dessa metáfora uma transformação dos homens aqui presentes em monstros absolutos, faz falta certa malícia aos envolvidos. Não é como se a raiva fosse uma maldade maior do que as armadilhas em que um homem pode prender uma mulher.

Ainda assim, o filme ainda guarda em si seus méritos. Abandone essa ambição por uma nova adaptação digna de um clássico e das pretensões que o próprio filma lança sobre si mesmo e você terá um ótimo filme de entrada para quem está começando a acompanhar o gênero. As cenas de terror corporal, habilmente transpostas para um sofrimento moral compostas por Abbott e a tensão real construída por Garner fazem que o filme ainda valha a pena uma assistida.

A quem tiver atenção, também valerá como um excelente estudo, embora incompleto, de como opera a masculinidade tóxica. São muitas interpretações além dessa, mas aí já estaríamos tentando domar um animal selvagem, melhor apenas observá-lo longe de suas garras.