Monarch: Legado de Monstros – Nem tudo precisa ser gigante
Como derivado do Monsterverse, “Monarch – Legado de Monstros” chega ao fim de sua primeira temporada com um salfo positivo, mas que acaba não fazendo muito barulho em um momento do cinema em que todos os sucessos precisam ser gigantescos.
O trocadilho é proposital, já que o tempo em que as pessoas paravam algumas horas em frente ao televisor para ver séries de forma despretensiosa no final de semana já nos deixou há tempos. Agora, cada franquia se degladia no ringue das opções de entretenimento, seja no cinema ou no streaming por migalhas da atenção do público, se valendo para isso de orçamento polpudos. Dessa forma, assim como os personagens dessa produção, é preciso que o espectador tome hora ou outra sua decisão, a de aceitar esse novo mundo ou não
A trama
Na trama, após a batalha estrondosa entre Godzilla e os Titãs que arrasou São Francisco e a chocante revelação de que os monstros são reais, dois irmãos seguem os passos de seu pai para descobrir a conexão de sua família com a organização secreta conhecida como Monarch. Pistas os levam ao mundo dos monstros e ao oficial do exército Lee Shaw (interpretado por Kurt Russell e Wyatt Russell) em dois períodos: nos anos 1950 e meio século depois, quando Monarch é ameaçada pelo que Shaw sabe.
A saga acompanha três gerações impactadas pelo ressurgimento dos Titãs e a sinopse oficial promete revelar segredos enterrados e eventos épicos e destruidores. Na verdade o que ocorre aqui é uma correção de caminhos. Se “Godzilla” de 2014 tentava ter um tom épíco que retirasse agência do ser humano e “Kong: Ilha da Caveira” de 2017 apenas trazia o primeiro dos monstros gigantes do cinema para um cenário de pancadaria insana, tudo que veio depois trouxe ares de conspiração global e segredos cósmicos, nunca precisamente explicados. Quando se considera que King Ghidorah não veio da Terra e que o planeta é oco, só temos duas posições a tomar: ou assume-se a breguice ou então perde-se a suspenção de descrença.
A nova série vem então como um novo contrato para o expectador. Sai a ciência maluca dos últimos dois filmes e entra um scifi igualmente louco, mas com verniz de realismo, se fazendo valer da moda da vez, o multiverso, sem no entanto cair nos erros das abordagens desse tema.
Os humanos, sempre os humanos
Desde que essa saga se iniciou, muito se tem discutido sobre qual o papel do elenco em uma série sobre pancadaria de monstros gigantes. Se no escopo da catástrofe é essencial ver os rostos e entender as perdas humanas no contexto, ao partir para a ação frenética, é natural que a escala se perca. Ninguém se precupa com quantos milhares morreram na batalha de Godzilla e Kong no Japão, só querem ver mais um poderzinho brilhante.
Por essa dicotomia na obra, às vezes é difícil apagar a sensação de que a história não está agregando muito, ou de que as coisas não deveriam parecer tão lentas em uma série em que tantas coisas são explicadas e tantos mistérios são colocados à mostra. Ao menos, quando o assunto é nos mostrar o perigo e a grandeza dos kaijus, esquecemos as horas de tédio que nos levaram até lá.