Críticas

Nosso Sonho – A História de Claudinho e Buchecha | Crítica

Com caracterização impecável e roteiro intimista, o longa decorre sobre a jornada da maior dupla do funk melody

9/10

 

Crédito: Angelica Goudinho

 

A obra nacional ‘Nosso Sonho’, com direção de Eduardo Albergaria, além de contar a ascensão da dupla Claudinho e Buchecha, se sai bem na construção dos personagens, nos vestuários e conta com alívios cômicos certeiros, tirando sorrisos até de quem já conhece a história com mais afinco. 

O longa-metragem musical apresenta a história da famosa dupla de cantores brasileiros Claudinho e Buchecha (interpretados, respectivamente, por Lucas Penteado e Juan Paiva). O título da produção presta uma homenagem a uma das canções mais conhecidas do grupo, lançada em 1996. Partindo de uma comunidade em Niterói, no Rio de Janeiro, a dupla conquistou o Brasil a partir de ritmo, poesia e músicas envolventes. Por mais que o filme seja denominado como musical, algumas das faixas mais famosas da dupla ficaram de fora da trilha sonora ou aparecendo apenas como instrumental.

Focando no desenvolvimento e narrativa de Buchecha, o filme inicia levando os telespectadores para o começo de tudo, mostrando como se tornaram amigos, quais as dificuldades que eles tinham quando mais novos, mas também a magia das crianças de conseguirem ter momentos felizes em meio às dificuldades da periferia. Durante a infância, Claudinho e Buchecha são interpretados por Boca de 09 e Gustavo Coelho, respectivamente. A atuação do elenco mirim cativa a audiência com a inocência e naturalidade em cena.

O enredo também teve foco no relacionamento do Buchecha e seu pai, Claudino de Souza (Nando Cunha), que possuía problemas com álcool, dificuldade de achar um emprego melhor e, devido ao seu comportamento agressivo, fez com que Buchecha precisasse se deslocar para sua própria segurança. Ainda assim, o jovem teve que lidar com a insistência de Claudinho em chamar seu pai para eventos, mesmo contra a vontade do amigo. A insistência dos momentos tóxicos voltados para o ambiente familiar é um assunto relevante e, na maior parte, a mensagem que acaba sendo transmitida ao público é que deve-se perdoar, por mais insalubre e desgastada que a relação esteja.

Para demonstrar e relatar a juventude dos cantores, é perceptível que tudo foi feito e pensado nos mínimos detalhes. As roupas com estética dos anos 2000 foram muito bem exploradas, desde as jerseys de basquete que Claudinho utilizava até boné levantado de aba reta que Buchecha deixou como marca registrada.

 

Crédito: Angelica Goudinho

Em muitos momentos, as cenas carregavam um teor mais intimista, nos deixando mais próximos dos ícones musicais. Com isso, nos afeiçoamos com a persistência de Claudinho e com a relutância de Buchecha. De um jeito surpreendente, o roteiro nos leva a torcer pelo sucesso e também nos faz reviver a dor da perda repentina de um talento brasileiro. A atuação de Juan Paiva e Lucas Penteado, são fundamentais para a carga emocional e responsáveis por transmitirem a irmandade entre os personagens de forma tão natural e fluida.

Em 120 minutos, o longa é capaz de nos transportar para o passado, com uma grande dose de nostalgia e melancolia, nos fazendo cantar e relembrar sucessos de funk melody que, na verdade, nunca saíram das nossas memórias. A homenagem ao Claudinho é coerente com o sucesso e os ensinamentos que deixou entre aqueles que conviviam com ele, lembrando não apenas a importância do perdão, mas também que não temos tempo a perder. 

Afinal, o tempo não volta.

 

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