Críticas

O Exorcista – O Devoto | Crítica

Com fórmula e narrativas diferentes, a obra seria inovadora, se não estivesse vinculada

8/10

 

A abordagem diferenciada e roteiro fora do padrão de ‘O Exorcista’ de 1973 surpreende o público, positiva ou negativamente pela quantidade de divergências entre as histórias que pertencem ao mesmo universo. O longa foge do óbvio quando o assunto é exorcismo e se desafia a sair da mesmice do território católico para o desenvolvimento da história.

O Exorcista – O Devoto é a sequência do clássico de 1973 sobre uma menina de 12 anos que é possuída por uma misteriosa entidade demoníaca, forçando sua mãe a buscar a ajuda de dois padres para salvá-la. Nesta versão de 2023, desde a morte de sua esposa grávida em um terremoto no Haiti, há 12 anos, Victor Fielding (Leslie Odom Jr.) tem criado sua filha Angela (Lidya Jewett) sozinho. Mas quando Angela e sua amiga Katherine (Olivia O’Neill) desaparecem na floresta e retornam três dias depois sem memória do que aconteceu com elas, isso desencadeia uma série de eventos que obrigará Victor a confrontar o mal e, em seu terror e desespero, buscar a única pessoa viva que testemunhou algo parecido antes: Chris MacNeil (Ellen Burstyn).

O começo do filme destaca de forma breve o relacionamento entre Victor e sua esposa. Durante essas cenas foi possível perceber a ligação rápida que a esposa teve com outra cultura e crença. Após isso é retratado a relação de pai e filha, mostrando o ambiente que Angela cresceu, sem a presença da mãe e como todo bem material pertencente à mãe é como se fosse uma relíquia que não pode ser usada/tocada.

A obra, dessa vez, tem duas crianças como principais e ao mesmo tempo, cria-se um dualismo entre as duas famílias, onde uma acredita em Deus enquanto o Victor não possui religião alguma. Essa dinâmica traz abordagens criativas e críticas referente às religiosidades da sociedade de forma fluida. Os questionamentos de crença que Victor faz são pensamentos e perguntas que já passaram pela mente de diversas pessoas, fazendo com que uma parcela do público se identifique.

O ponto decisivo, onde os pais descobrem que uma das garotas viverá e a outra não, relembra a audiência que existem filmes de terror que não irão suprir uma expectativa de final feliz – principalmente num primeiro filme de uma trilogia. Além disso, mostra como o ser humano pode escolher algo movido pelo egoísmo e como a crença vai além de uma religião específica e suas doutrinas.

O maior pecado do filme, no caso, é fazer parte de um universo que o público já possui uma expectativa escrachada e previsível, não possibilitando o aumento de horizontes e até mesmo releituras ousadas, como inserir uma criança a mais, esperar um final feliz em filme de terror ou até mesmo abordar outras devoções.

O filme estreia dia 12 de outubro – no dia das crianças – e não possui cenas pós-créditos.