Críticas

Os Filhos dos Outros | Crítica

Na casa dos 40 anos, Rachel (Virginie Efira) está satisfeita com sua vida pessoal e profissional quando conhece Ali (Roschdy Zem), um homem divorciado que possui uma filha, Leila, de cinco anos. Com essa premissa simples e estranhamente incomum, “Os Filhos dos Outros” adota um ponto de vista estranhamente incomum – o da madrasta – para construir uma história tocante que escapa às armadilhas do melodrama.

Concorrendo no ano de 2021 ao Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza,este é sem dúvida o filme mais íntimo que Rebecca Zlotowski, a diretora, já produziu. Temos aqui uma obra que pertence a um certo cinema francês, fundamentalmente íntimo e profundamente autoral – uma escola de filmes já um tanto negligenciada, infelizmente em razão das influências hollywoodianas e que o grande público pouco a pouco desaprende a assistir.

O que temos aqui é uma abordagem que busca aproximar a arte de lugares mais sensíveis da vida real, abrindo mão de tropos comuns e que as narrativas do cinema se apropriaram dos contos e histórias fabulares. Como um bom exemplo, Alice, a antiga parceira de Ali e mãe de Leila, destaca-se por não se enquadrar no estereótipo complicado que muitos filmes costumam retratar, tampouco se serve da disputa entre as mulheres para produzir conflitos na trama. Ao contrário, é na interpretação de Chiara Mastroianni que a história se apoia para trazer uma incrível sensibilidade, especialmente em um diálogo sincero entre Alice e Rachel.

Virginie Efira e Roschdy Zem formam um formidável casal na tela, transmitindo perfeitamente a alegria do seu encontro, mas também a base mais frágil sobre a qual a sua relação foi construída. Tudo isso é necessário para que o tema central não seja poluído por outras tramas e possa se desenvolver naturalmente. O dilema de Rachel aqui é mais intimista e sofisticado.

Enquanto lida com as emoções do apego à pequena Leila, tentando entender a natureza do apego nessas circunstâncias, Rachel tenta em vão ter um filho também. No entanto, neste contexto, o filme de Rebecca Zlotowski evita adotar o caminho convencional. Em vez de promover a ideia de que a verdadeira realização de uma mulher está atrelada à maternidade, “Os Filhos dos Outros” desafia de forma clara os limites dessa perspectiva tradicional, pintando assim, de forma simples e sutil, o retrato de uma mulher moderna, lutando com questões de sua época