“Parasyte: The Grey” faz tudo certo, mas não alcança ainda o material base
“Parasyte: The Grey ” estreou em 5 de abril, na Netflix, com seis episódios repletos de suspense, ação e intriga. A série oferece uma nova visão do enredo de um mangá de 1989 que já recebeu adtações em anime e nos cinemas japoneses na última década. A trama mostra as consequências da invasão de parasitas extraterrestres que descem sobre a Terra e os efeitos assustadores de sua chegada. Mesclando a temática de “Os invasores de Corpos” com boa doses de body Horror e violencia gráfica, o mangá é acima de tudo uma reflexão sobre filosofia existencial e anti-nilismo.
Na nova série, agora centrada no terrritório coreano e com uma nova protagonista, esses parasitas possuem a capacidade de assumir o controle dos hospedeiros humanos, infiltrando-se em seus cérebros e corpos. No centro da narrativa está Jung Soo In (Jeon So Nee), cuja vida sofre uma reviravolta angustiante quando ela é infectada por um parasita.
O que ocorre é que Soo In é infectada em um momento impróprio, já que acabava de ser atacada por um maníaco e estava à beira da morte. Precisando salvar sua hospedeira, o parasita que entra no corpo da jovem não consegue completar sua metamorfose e acaba se fundindo ao cérebro da garota, em vez de assumir seu lugar. Dessa forma, em vez de sucumbir ao seu controle, Soo In fez uma estranha convivência com o parasita. Enquanto isso, Seol Kang Woo (Koo Kyo Hwan) é outro protagonista da série, que está se esforçando para encontrar sua irmã desaparecida.
Na outra ponta do enredo está está Choi Jun Kyung (Lee Jung Hyun), a determinada líder da equipe “The Grey“, uma unidade especializada dedicada a erradicar a ameaça parasitária, que não está disposta a entender a condição peculiar de Soo In e provavelmente preferiria dar um tiro de escopeta no coração da jovem antes de qualquer explicação.
A filosofia e o drama
Embora tenha elementos de terror e ação, o mangá de Hitoshi Iwaaki brilha quando se propõe a apresentar as conflituosas visões de mundo entre seu prtotagonista humano e alienigena através de embates filosóficos. Mas não pense que haverá isso na série. Até existe algum flerte com algumas falas da nova parasita protagonista, mas são acenas e não temáticas.
O que temos, marcadamente é o drama. Todas as relações dos personagens na série são marcadas pelo drama e o sofrimento. O irmão que perdeu a irmã, a filha que sofreu abuso e violência do pai, a esposa atacada pelo marido que foi transformado. Todas essas dores constrem os personagens e guiam suas ações, evidenciando que são essas emoções e como lidamos com elas que nos tornam humanos, ainda que sejamos um parasita espacial. É um caminho diferente do mangá, mas é igualmente válido. Apenas já vimos isso antes.
Ao mesmo tempo, o diretor Yeon Sang-ho (Invasão Zumbi, Profecia do Inferno), habituado à tramas de terror com violência gráfica, explora todo o potencial das criaturas com um CGI fiel aos designs originais e muito compatente nas cenas de batalhas. Há poucos acenos à obra original, como falas reaproveitadas e easter eggs aos longo dos episódios, mas o fãs devem vibrar com um epílogo que promete muito para uma possível segunda temporada.
Mas e agora?
O grande desafio de “Parasyte: The Grey” agora é conquistar um grande público e audiência que o permita ir além. Não parece improvável, mas há algumas barreiras a serem vencidas para isso. O primeiro é a comparação com outras obras que, embora mais recentes que o mangá, se tornaram mais icônicas e definidoras do gênero. Não se espante ao ver pessoas dizendo que a série parece uma cópia de “Resident Evil” por exemplo.
O outro problema é o ritmo, que é errático. O primeiro episódio começa com muita energia, e mesmo a criação do grupo de caça é feito com muita velocidade na série, de modo que tudo isso acaba atraindo os espectadores para um mundo de mistério e perigo. No entanto, esse impulso é rapidamente prejudicado à medida que a narrativa se desenvolve, com episódios parecendo lentos e sinuosos. Uma pena que isso seja um problema hoje em dia, pois esta série ganharia muito com um ritmo verdadeiramente lento. Da maneira como está, porém, isso parece menos intenção e mais um pulso frouxo com o roteiro.
Ainda assim, “Parasyte: The Grey” consegue proporcionar momentos de suspense, drama e tensão, e a dinâmica entre Jung Soo-in e o parasita que coexiste dentro dela oferece um vislumbre fascinante das complexidades da sobrevivência num mundo dominado por forças hostis.