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Primeiras Impressões | Velma (2023)

“Velma” começa muito mal, sejamos sinceros, mas tem aquele brilho escondido em muitos momentos de sua estreia em dois episódios que nos permite acreditar.

Desde que foi anunciada, a série disruptiva com os personagens clássicos de Scooby-Doo reimaginados recebeu um enxurrada de críticas. Seu teaser de anúncio recebeu milhares de comentários críticos em poucos horas, quando lançado em outubro. E se o público já estiver com má vontade quando der play no primeiro episódio do show, vai desligar a tv nos primeiros cinco minutos.

Há excessos em muitos momentos, mas o início é o mais complicado. Faz lembrar o início metalinguístico de pânico, mas sem seu brilho e soando como um pastiche de segunda categoria

Falta originalidade…

Sejamos justos, a subversão nunca foi tão difícil de se fazer como hoje. Se por um lado, qualquer alteração étnica, de gênero ou sexualidade ainda coloca na produção um alvo enorme dos conservadores, por outro, tanta subversão já foi feita que uma obra já não se sustenta mais, hoje em dia pelo choque.

Uma Velma LGBTQIA+? Scooby-Doo! Mistério S/A fez em 2010. Fazer de Orville (a tradução e a dublagem não mantiveram o nome “Salsicha”) um usuário de drogas? James Gunn já insinuou o amor do personagem pela “Mary Jane” em 2002. Fred ser o típico cara branco burro, infantil e gostosão é praticamente o que gerou a paródia Johnny Bravo em 1995!

A quebra da quarta parede foi vista melhor há pouco tempo em “She-Hulk“, onde cabia e era inventiva. E tom o ácido e de diálogos rápidos é o mesmo que se vê em qualquer série de animação que tenha surfado na onda de “Rick and Morty“. Tudo isso é um problema? Não. O problema é uma característica única de “Velma” que não aparece em outras obras básicas atuais: seu texto se considera único.

…. e se pede um pouquinho mais de coragem

E há mesmo algo único no texto, o carisma de seus personagens. Velma é chata, mas tem um trauma familiar interessante. Daphne tem um background batido, mas que envereda por caminhos interessantes. Fred tem um lado violento que trás para ele complexidade e Orville possui traços de inteligência que nunca teve em outras versões.

A diversidade étnica também trás oportunidades narrativas enormes que certamente vão além das piadas. Falando em piadas, muitas são boas, mas surgem em tela como uma metralhadora e referências e comentários supostamente autocríticos e inteligentes que cansam. Pior quando são jogadas junto a seguimentos físicos típicos de animações antigas em uma homenagem deslocada.

Falta a série, até o segundo episódio ao menos olhar para o que tem de melhor a oferecer, se desprender do passado e da luta contra ele e mirar no futuro. Mas talvez seja pedir demais a uma série que o público nunca deixará seguir existindo. Uma pena.