Em Rebel Moon, a verdadeira batalha é ficar acordado
Zack Snyder precisa de freios, e urgentemente. É, na verdade, extremamente curioso que um cineasta com um fã clube tão engajado em defender sua “visão” faça algo tão vazio. Já faz um tempo que as produções que levam seu nome fazem parte de uma espécie de gourmetização falsa da sétima arte, mas com “Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes” finalmente temos a certeza que este caríssimo croissant é na verdade um pastel de vento.
É difícil encontrar o que escrever, mas façamos assim: o maior defeito do filme é ser genérico. Sem substância ou boas ideia próprias, o filme acaba se tornando uma mistura psicodélica recheada de imitações, sejam visuais ou temáticas.
A soma das cores e a cor de burro quando foge
Há aqui grandes pretensões, em especial de mercado. Há o desejo de contituir uma grande franquia, óbvio. Mas não há estrutura para isso. Não há na história algo que sirva como a espinha dorsal desse universo, nem elementos que se justifiquem para que os personagens sejam críveis.
E faz sentido já que sabemos que quando Snyder concebeu a trama, ela deveria ser um spin off de Star Wars. Confiando na solidez de um um produto de mídia consolidado, o diretor aqui podéria se concentrar no efeito massavéio, como tentou fazer com o universo DC. Sem isso, resta preencher os vazios com o que estiver à mão. Que tal evocar o clássico poema do Cavaleiro Verde com seu robô misterioso. Por que não incluir uma referência obscura ao cinema europeu com aqueles violinistas, dane-se se ninguém entender. Mas talvez isso afaste o público… bom, os pegamos de volta ao fazer um Conan genérico enfrentando nazistas especiais. Os tons e matizes dramáticos se perdem ao se misturar de maneira não controlada e o resultado não pode deixar de ser notado.
É incrível que, com o roteiro de Snyder, Shay Hatten e Kurt Johnstad, cada vez que um personagem abre a boca, a trama tropeça em suas próprias aspirações. O mesmo acontece com as decisões do roteiro. As coisas não acontecem, são escritas. Precisamos de um prazo limite, que tal cinco dias. Mas precisamos que ainda assim os rebeldes se preparem, então magicamente eles farão a colheita e aprenderão a lutar em três dias. Se precisamos de drama, que tal uma morte. Assim, por que sim.
A coisa é tão descarada que ao fim só resta uma pergunta: Para onde vai a franquia Netflix de Zack Snyder a partir daqui?
Se o sono vier, durma
Sendo “Rebel Moon”, na melhor das hipóteses, um mashup violento de clichês dos filme B e, na pior, o mockbuster mais caro da história do cinema hollywoodiano, talvez a única forma de encará-lo de forma saudável é como olhamos para um “Sharknado” ou um “Birdemic”, ou seja, um espetáculo do exagero.
Até mesmo a beleza plástica e vazia de Snyder se perde, enquanto sua pretensão estética se esvazia na repetição sem fim e sem sentido. O sono chegou a mim pouco depois da primeira meia hora. Isso na primeira tentativa. Na segunda, pouco depois do meio do filme. E na terceira desisti de ver do início.
Nesse ponto me perguntei: Se não há motivos na produção que me façam ficar acordado, por que serei eu o esforçado que lutará contra o sono para produzir uma sensação que o filme não é mais capaz? Veio então a epifania, esse dilema, se aplicado aos personagens de Rebel Moon daria uma trama mais interessante do que aquela em tela. Não há nada mais a dizer.