Resenha — Mitologia Nórdica, de Neil Gaiman
Mitos são, mais do que qualquer outra forma de literatura, uma capsula do tempo. Não apenas nos transmitem as ideias dos seus autores mas algo que podemos chamar de espírito de um povo, congelado no tempo através de uma narrativa capaz de explicar o inexplicável. Na Apresentação de “Mitologia Nórdica”, Neil Gaiman explica brevemente por que possui um fascínio pelas histórias dos deuses da Escandinávia. Mas verdade seja dita, as mais diversas mitologias exercem fascínio em todos nós. Uma breve olhada na obra de Gaiman mostra como os arquétipos de séculos do passado, em vários lugares do mundo estão nos contando uma mesma história: a história de como contar histórias.
Perdoem-me a megalomania, mas ela é justificada. Antes, no entanto, vamos ao conteúdo. Temos aqui quinze histórias que vão desde o surgimento do mundo nórdico até sua destruição, passando por pontos clássicos, como o surgimento do martelo Mjolnir. Não ficam de lado casos pitorescos, como Loki parindo um cavalo de seis pernas. E somos convidados a conhecer alguns que não são de amplo conhecimento comum. Publicada no Brasil pela editora Intrínseca numa linda edição em capa dura e numa ótima composição de papel. “Mitologia Nórdica” acabou dando mais sorte que seu primo mais famoso, “Deuses Americanos” que infelizmente recebeu uma edição quem embora bonita, é frágil.
Importante que o acabamento seja bom, pois este é um livro para se ler na rede, na cama ou num momento descontraído ao ar livre – Nestes nossos tempos, tão raros. Ao recontar estes contos clássicos, Gaiman o faz sobre uma visão narrativa moderna. Ele consulta os textos históricos – as duas Edas principalmente – e escreve as histórias livremente, incluindo diálogos à moda da imitação shakespeariana e uma agilidade divertida, característica dos textos contemporâneos de que ele mesmo é forte representante.
Apesar de a coletânea ser um processo de reescrita conhecidos por gerações, Neil Gaiman busca resumir e recontar estes mitos de maneira cuidadosa, concisa e clara. Para leitores da literatura universal, muito mais influenciados por tradições greco-latinas e judaico-cristãs, alguns mitos poderiam soar estranhos. Mas aí então entra a arte e o significado de contar histórias, que Gaiman conhece tão bem. Assim é construído todo um modelo narrativo e metafórico em que o texto nos ensina a compreender o que está escrito. E isso é feito à medida que o lemos. Dessa maneira, leitores menos experientes – Seja por serem jovens ou por não conheceram as estruturas do mitos aqui baseado – são convidados a compreender seus significados e todo o peso que possuíram para um povo.
Por fim, o veredicto é que “Mitologia Nórdica” é um livro gostoso de ler. Possui mais profundidade do que aparenta a princípio e foi publicada no Brasil com uma edição bonita e bem produzida, para todos os públicos.
Nota: 4/5