Resenha – Superman Esmaga a Klan
Considerando que vivemos em um tempo em que as pessoas dizem que os quadrinhos do Superman “cederam à lacração”, ler um quadrinho como “Superman Esmaga a Klan” nos ajuda a ter uma noção melhor do que esse personagem pode representar.
A coisa não é recente. Em 2012, lembro de ter lido um livro que, emboraescrito num estilo rápido, legível e delicioso, com foco em leitores adolescentes e com pouca profundidade, tratou sobre uma interseção significativa da história contemporânea da cultura pop: o choque entre a Klan e o Superman. O título do livro é “Superman Versus the Ku Klux Klan”, de Rick Bowers, e trata de mostrar como a história dessas duas entidades marcantes (para o bem e o mal) da cultura estadunidense e que foram retratadas em um episódio drama de rádio veículado em 1946 “The Adventures Of Superman , Clan Of The Fiery Cross”.
Um quadrinho verdadeiramente especial
Antes de tudo, já tendo oferecido o contexto, vamos dizer sobre o que estamos falando aqui. Ao contrário do que pensam muitos haters, o Superman tem em sua criação muitos elementos que seriam taxados hoje como progressistas. Em especial, o tema do imigrante, presente desde o início de sua concepção como personagem.
Então, é natural que criadores vejam essa face do personagem e a explorem. Tendo como base o roteiro do episódio de rádio, o roteirista Gene Luen Yang produz um trabalho verdadeiramente histórico.
Sobretudo, talvez, por sua experiência e sensibilidade para tratar do tema. Habituado aos quadrinhos históricos, sua duologia “Boxers & Saints” relata duas perspectivas do Movimento Yihetuan na China na virada do século passado é aclamadas pela crítica e amada pelos fãs.
Na trama, a família de Tommie e Roberta Lee se muda de Chinatown para Metropolis. Mas a família sino-americana não é bem-vinda por todos os residentes da cidade, e a Klan of the Fiery Cross (uma versão fictícia da KKK) os ataca, primeiro com uma cruz em chamas em seu gramado, depois aumentando a violência dos ataques à medida que o família se mantém firme.
Por sua vez, o Superman está determinado a ajudar os Lees, mas ele está enfrentando seus próprios dilemas. Afinal, ele está vendo figuras verdes, que afirmam ser seus pais kryptonianos e o pressionam a se aceitar como verdadeiramente é. Enquanto protege a família e conhece a jovem Roberta Lee, talvez o Superman se descubra e finalmente pare de fingir que é humano.
Mensagens claras e necessárias
Ninguém pode dizer que não entendeu. O quadrinho abre com um conflito entre o Superman e um vilão nazista. O óbvio é óbvio, e não podemos chamar isso de maniqueísmo. Além disso, os fãs incondicionais de um Superman sombrio e realista precisam dar uma olhada aqui para entender o que significa ser um ícone.
O quadrinho, que claramente trás elementos das experiências pessoais de Yang com o racismo e foca claramente na família asiática, não esquece de falar dos EUA. Assim como “Maus”, há aqui uma auto crítica na breve passagem sobre o racismo para com a população negra, mesmo vindo de outros grupos marginalizados. E talvez no momento mais tocante, um garoto que luta contra a influência do tio racista ataca Roberta e é parado pelo Superman. O herói nota que o menino agressor usa seu símbolo no peito.
Em síntese, vemos que o roteiro reconhece o papel educativo que o material base possui e o engrandece, com estratégias narrativas dignas de um verdadeiro clássico. E a arte acompanha. Gurihiru consegue com masteria criar uma história em quadrinhos com uma aparência da era de ouro dos quadrinhos.
Por fim, é uma combinação perfeita. O título evoca um clássico icônico e apresenta um tópico oportuno que remonta a mais de 60 anos, mas, infelizmente, ainda é relevante hoje.
Editora : Panini; 1ª edição (17 dezembro 2021)
Idioma : Português
Por
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