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Três mulheres: Uma esperança – Lealdade em meio à dor

Baseado em eventos reais o drama alemão retrata eventos ocorridos durante a primavera de 1945, próximo ao fim da Segunda Guerra Mundial, na cidade de Trobitz, nos quais um trem, transportando milhares prisioneiros judeus vindos do campo de concentração de Bergen Belsen, cujos passageiros serviriam de moeda de troca para resgatar prisioneiros alemães, é abandonado nas proximidades de um vilarejo alemão, ocupado pelo Exército Vermelho Russo.

Quando os judeus são conduzidos ao pequeno vilarejo, a destemida Judia holandesa Simone (Hanna Van Vliet) é forçada a conviver com a jovem aldeã alemã Winnie (Anna Bachmann) e também com a habilidosa atiradora russa Vera (Eugénie Anselin), enquanto aguardam a conclusão do mais sangrento conflito armado da história.

Imagem: Divulgação

Ao desembarcar do trem de transporte de prisioneiros a judia Simone leva consigo seu marido doente para o abrigo na cidade alemã e lá tenta evitar que seu estado crítico de saúde seja descoberto pelo soldados russos que imediatamente encaminhariam o enfermo para tratamento médico em um hospital improvisado e totalmente desprovido de recursos.

Nesse ponto vale ressaltar uma falha na produção do longa da cineasta holandesa Saskia Diesing, que retrata os judeus, vindos de um dos piores campos de concentração nazistas, devidamente trajados com ternos e roupas femininas em perfeito estado, com aspecto saudável e cabelos cumpridos, que nem de longe retratam a violência e as inúmeras privações suportadas pelos judeus no campo de trabalhos forçados.

Imagem: Divulgação

Apesar dos erros primários de produção o longa desenvolve-se bem ao mostrar de que maneira as feridas da guerra deixaram marcas profundas nas histórias de vida de Simone, uma sobrevivente do holocausto e Winnie que viu sua mãe ser assassinada por um grupo de soldados russos, liderados por Vera, na frente de sua casa, mostrando que embora estivessem em lados distintos do conflito armado, partilhavam da dor dilacerante causada pela perda de seus entes queridos.

Como não poderia deixar de ser, a convivência entre três mulheres com tantas razões para odiarem-se é tensa e conflituosa, mas com o desenvolvimento da história pequenas mostras de empatia entre elas faz com que suas diferenças sejam paulatinamente minimizadas.

Imagem: Divulgação

O estreitamento entre os laços de amizade leva as protagonistas a desenvolverem entre si um sentimento tão forte de lealdade que em dado momento são induzidas a mentir e a cometerem atrocidades pelo bem uma da outra, por mais contraditório que isso possa parecer, levando o público a questionar as escolhas de cada uma.

No fim das contas, entre muitos erros e acertos, o longa consegue sair-se bem na missão de retratar com humanidade as complexas relações pessoais em um dos períodos mais sombrios da história da humanidade, e também ao mostrar que apesar da dor causada pelo luto e pelas atrocidades da guerra, é possível encontrar esperança.

william

Direito por formação, Nerd e Otaku por inspiração, Cinéflo por concepção, Redator nas horas de solidão, Pai e marido por paixão e Cristão por convicção.