Crítica – Pureza (2019)
O cinema, enquanto técnica, possui um sem fim de funções e não-funções. Como espetáculo ou como arte, é capaz de elevar emoções dos expectadores. Em outros momentos, o cinema funciona como um registro da história e do reconhecimento desta. É o caso de “Pureza“, filme de Renato Barbieri que retrata a história de uma personagem real homonima, aqui interpretada por Dira Paes.
Embora pouco conhecida no Brasil, Pureza Lopes Loiola recebeu em Londres o Prêmio Anti-Escravidão da Anti-Slavery International, mais antiga entidade mundial de combate ao trabalho escravo. Dessa forma, o filme nasce como mais uma forma de reconhecimento e informação para o público.
Uma história mais do que real
A trama acompanha a protagonista em uma jornada para encontrar seu filho. O rapaz que foi levado a um grande latifúndio como empregado, mas que na realidade vive num sistema análogo à escravidão – um termo jurídico para a escravidão de fato.
Longe de ser um primor cinematográfico, o filme foca em simplificar a trajetória das personagens reais em pouco mais de uma hora, fazendo do caminho de Pureza um caminho de justiça que passa pela cruzada pessoal até os meandros da política nacional.
Na busca pelo filho, Pureza descobre todo o sofrimento de dezenas de outras pessoas, se tornando aos poucos uma ativista poderosa em uma luta que, mesmo no Brasil de hoje – e talvez sobretudo no Brasil de hoje – ainda destrói muitas vidas.
Mesmo que haja pouco brilho na técnica empregada, ao menos a atuação de Dira Ṕaes se destaca no horizonte. Definitivamente uma das maiores atrizes em atividade no país, ela consegue trabalhar as poucas boas linhas do seu texto extraindo emoções verdadeiras.
Ao fim, resta a sensibilidade diante de uma história real. Capaz tanto de nos tocar como também de nos tirar a sensibilidade. Cabe, portanto, a nós decidir a postura que o encaramos.