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Luther: O cair da noite – Não está fácil para ninguém

O filme Luther: Cair da noite é a mais nova aposta da Netflix e conta com um elenco talentosíssimo, encabeçado por Idris Elba (O Heimdal dos filmes do Thor) no papel título e Andy Serkis (Gollum em Senhor dos Anéis) na pele do antagonista David Robey, mas nem mesmo atores consagrados conseguem fazer milagres em um filme com um roteiro tão fraco que chega, em alguns momentos, a ofender a inteligência do espectador.

No longa acompanhamos a trajetória do detetive John Luther (Elba) que após ser chamado para investigar o misterioso desaparecimento de um jovem, tem sua vida virada do avesso quando todos os deslizes cometidos ao longo da carreira são trazidos à tona e ele acaba preso, antes de concluir sua investigação e encontrar o verdadeiro responsável pelo desaparecimento que investigava.

Imagem: Divulgação

Durante sua permanência na prisão o protagonista acaba deparando-se com muitos dos criminosos que ajudou a colocar atrás das grades quando era policial e uma vez encarcerado, torna-se o alvo preferencial desses criminosos que a todo momento buscam o melhor oportunidade para tirar a sua vida.

A condição delicada do protagonista, um ex-policial dentro da cadeia, parece ser evidentemente perigosa para todos, menos para ele mesmo, que em dado momento chega a banhar-se tranquilamente no banheiro coletivo da prisão de costas para todos os meliantes que queriam matá-lo, quase que como se estivesse desfrutando de um final de semana tranquilo em um resort, até que um bando de marginais decide interromper o banho relaxante de Luther e trazê-lo de volta à realidade na base do soco. Surreal é pouco.

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Enquanto Luther encontrava-se em apuros no resort, digo na cadeia, o psicopata David Robey, que também foi o responsável pela derrocada na vida do protagonista, ficou livre para articular seu plano maquiavélico de dominação mundial que consiste em descobrir os podres de pessoas que temem terem seus segredos expostos e chantageá-las para que façam o que lhe der na telha, permitindo ao vilão ganhar alguns seguidores em seu canal na darkweb.

A história contada no filme pode ter inúmeros defeitos, mas se tem algo que deve ser reconhecido é o caráter democrático do roteiro de Neil Cross que consegue partilhar de maneira uniforme as mais estapafúrdias justificativas para as ações tanto dos protagonistas quanto dos coadjuvantes, a exemplo da sofrível personagem Odette Raine (Cynthia Erivo), que mesmo em um filme com tantos absurdos, consegue se destacar da pior maneira possível, apesar do nítido esforço da atriz que tenta a todo custo tirar leite de pedra e conferir alguma dignidade à sua personagem.

Imagem: Divulgação

O talento de Idris Elba e Andy Serkis é inquestionável, mas seus personagens no filme são tão caricatos e possuem atitudes tão questionáveis que muitas vezes temos a impressão de que apenas um considerável acúmulo de boletos vencidos poderia justificar que atores desse porte embarcassem em uma jornada tão sem pé nem cabeça como esse filme.

Com uma produção pífia, personagens mal construídos e com um roteiro com mais furos que uma peneira, Luther – O cair da noite é a clara demonstração de que um filme bom de verdade necessita de algo além de muita grana, bons atores e propaganda agressiva. Mas se o filme não consegue agradar, seja pelo conteúdo superficial, pelas atuações desastrosas ou pela produção medíocre, ao menos ajuda o elenco a ficar em dia com a fatura do cartão de crédito.

william

Direito por formação, Nerd e Otaku por inspiração, Cinéflo por concepção, Redator nas horas de solidão, Pai e marido por paixão e Cristão por convicção.