Crítica| Scott Pilgrim: Takes Off
Com trama que cede à moda do multiverso, “Scott Pilgrim: Takes Off” não se contenta em recontar história já conhecida e oferece uma reimaginação muito bem vinda. Em uma era em que tudo se resume a sua capacidade de se tornar uma franquia, Scott Pilgrim começou como uma série de HQs, se tornou um filme com uma fanbase consolidade, virou jogo jogo e agora série animada. A enorme surpresa é que ainda tenhamos aqui obras de qualidade sendo apresentadas.
A animação opera bem, atualizando os traços do quadrinho a um formato de anime que parece fofo. E vale dizer que o contraste disso com a violência e os temas maduros da trama reflete o espírito da obra. Considerando que a série original em quadrinhos carrega um “Vs” no título, as lutas foram da nova história são interessantes, levando a história de episódio pra episódio de forma bem estruturada.
Retratos de época
Quando Bryan Lee O’Malley publicou pela primeira vez sua série “Scott Pilgrim” de 2004 a 2010, a cultura pop estava povoada por coisas como “How I Met Your Mother” e “(500) Days of Summer” – histórias sobre homens inseguros e solitários, embora agentes de suas próprias vidas e as mulheres que amavam e que os faziam desabrochar. Ninguém deve discordar que Scott se encaixa nessa descrição, perseguindo a entregadora de cabelo rosa Ramona Flowers em uma batalha com seus ex-ligados do mal.
Mesmo que houvesse alí alguns comentários sobre a toxicidade do próprio protagonista, o que tornava-o mais esférico em sua construção narrativa, a obra original ainda se tratava de uma representação dos desafios da masculinidade jovem daqueles dias. Influenciado pelo mangá japonês, “mais até do que na linguagem dos videogames, é como se no novo anime a história pudesse se reencontar consigo mesma e tomar novas decisões mais maduras.
Diferente para ser igual
Para quem conhece a história e esperava uma adaptação direta do original, é possível alguma dose de decepção. Em especial se não houver a percepção imediata do que está em jogo nesta trama, já alterada a partir do primeiro epísódio. De Manic Pixie Dream Girl, Ramona se torna o foco narrativo da história. Scott deixa de ser apenas uma força imparável em busca da sua paixão por Ramona e é obrigado a realizar a escolha definitiva de que tipo de homem deseja se tornar. Os ex, todos, ganham novos contornos e desenvolvimentos. Operando como um “reboot” e uma sequência, os quadrinhos são basicamente leitura obrigatória pra ter a experiência completa.
Scott Pilgrim Takes Off” é simples e divertido, usando a estética infantil para falar com os pré-adolescentes que leram o quadrinho e viram o filme, fazendo então um convite para que se vejam agora como adultos. Não abre mão de se propor a ser um conforto nostálgico mas provoca com autoconsciência. E surpreendentemente, consegue bem.