Black Mirror – Resumo comentado da 6ª temporada
A série de ficção científica concebida pelo cineasta Charlie Brooker em 2011 e incorporada à Netflix em 2015 foi criada com o objetivo de retratar de forma crítica os caminhos obscuros que poderão ser trilhados por uma sociedade cada vez mais dependente de inovações tecnológicas e que poderão, em determinado momento, ter consequências obscuras e extremamente questionáveis.
Nas primeiras temporadas o viés tecnológico da série, na qual cada episódio aborda uma história diferente, era muito forte, com histórias tensas, fortes críticas sociais, mas sempre utilizando a evolução tecnológica como pano de fundo. Com o avançar das temporadas o perfil da série foi gradativamente sendo alterado com a incorporação de novos elementos à trama como temas sobrenaturais, chegando até mesmo a flertar com uma pegada mais voltada ao terror. E sexta temporada da série é a melhor demonstração dos novos rumos adotados pela série, como veremos a seguir.
Episódio 1 – A Joan é péssima
Uma mulher comum descobre que sua vida tornou-se uma série de TV, protagonizada por Salma Hayek, criada pela plataforma de streaming Streamberry que legalmente conseguiu os direitos para a exibição da história cuja exibição transformou completamente a vida da outrora desconhecida Joan.
Esse é de longe o melhor episódio da temporada e além de ser uma sátira à própria Netflix, tece críticas contundentes ao comportamento da sociedade moderna, tão habituada a diariamente consumir produtos e contratar serviços em larga escala, mas sem atentar para todas as particularidades do compromisso assumido ou para as consequências de suas escolhas.
Episódio 2 – Loch Henry
Um jovem casal resolve filmar um documentário sobre a natureza em uma pacata cidade na Escócia, mas durante a produção da película eventos aterradores do passado vêm a tona e põem em risco não apenas o filme como a própria integridade dos cineastas.
Seguindo o estilo True Crime o episódio é o primeiro a destoar da pegada Black Mirror da série e apresenta um drama mediano envolvendo o trágico, e até então desconhecido, passado do protagonista que sonha sem ser um cineasta de sucesso. Possivelmente um dos episódios mais fracos da sexta temporada.
Episódio 3 – Beyond the Sea
Em um alternativo ano de 1969 dois astronautas encontram-se confinados em uma estação espacial numa missão de 6 anos, enquanto precisam lidar com as consequências de terríveis de tragédias familiares ocorridas na Terra.
O episódio é muito bom e, embora retrate eventos ocorridos na década de 60, tem na tecnologia seu ponto central para o desenrolar dos eventos da trama. É muito bacana acompanhar como a cordial convivência dos astronautas evolui para uma interação regada a muito ódio e ressentimento na medida em que um deles é forçado a compreender a dor do outro. A conclusão da historia poderia ter sido melhor, mas ainda sim é um ótimo episódio e consegue mostrar de forma bastante eficaz como pessoas boas, submetidas a determinadas circunstâncias, podem ser capazes de atos tenebrosos.
Episódio 4 – Mazey Day
A problemática estrela de Hollywood Mazey passa por uma situação delicada quando acidentalmente atropela e mata um transeunte. Enquanto procura afastar-se dos holofotes para conseguir estabilizar sua carreira e sua sanidade, a atriz é perseguida de modo incansável por um grupo de paparazzi.
O episódio mais fraco da temporada é um filme de terror daqueles que não preocupam-se em dar explicações para eventos sobrenaturais que surgem na tela apenas como uma desculpa para um gratuito derramamento de sangue. Um dos episódios mais sem pé nem cabeça da franquia.
Episódio 5 – Demônio 79
Na região norte da Inglaterra uma vendedora de sapatos acidentalmente faz um pacto com um demônio quando seu sangue entra em contato com uma objeto amaldiçoado e a partir dali deve cometer três assassinatos em 72 horas para evitar o apocalipse.
O roteiro simples do episódio permite um desenvolvimento muito leve da trama com ótimas tiradas cômicas, garantidas principalmente pela excelente química entre o casal protagonista. Embora fuja bastante da proposta Black Mirror a trama é muito divertida.