Críticas

Crítica | A Mensageira (2023)

Quando falamos de produção nacional, uma das críticas mais comuns que aparecem é que o cinema nacional não abraça os gêneros mais populares. Outra crítica é a acessibilidade, já que muitas produções vão direto para festivais ou cinemas de nicho. Com “A Mensageira“, o que temos é um rompimento com estas duas situações pois se trata de um terror coeso em se apresentar como um produto voltado ao grande público e também é acessível, pois está disponibilizado gratuitamente no Youtube.

Escrito e dirigido por Donna Oliveira, a narrativa segue Mari (Ingrid Gaigher), uma médium que reluta em aceitar seu talento para incorporar espíritos. Durante seu sono, os mortos apossam-se dela, deixando-a sem memória do ocorrido. À medida que a trama se desenrola, as possessões se tornam mais frequentes, com espíritos falecidos ansiosos por tirar Mari de sua residência e usá-la como um canal para resolver suas questões pendentes neste mundo.

Para ajudar a jovem, Madalena (Laila Garin), uma psicoterapeuta que concorda em oferecer tratamento online para espíritos, inicialmente acredita estar lidando com um possível distúrbio de múltiplas personalidades de sua paciente. No entanto, suas convicções são desafiadas quando ela atende a todos os espíritos que se manifestam através de Mari, alguns com desejos obscuros e perigosos.

Gravado durante a pandemia de Covid-19, a produção se vale de um ferramentário audiovidual pouco comum, ao filmar a ação através de telas de computador, chats online e da verticalização dos videos de aplicativos como Instragram e Tik Tok. Os recursos, que mal usados podem gerar um cansaço no expectador, aqui são utilizados de forma orgânica e de forma sofisticada ( uma cena em particular, quando uma câmera de segurança se revela apenas um video sendo assistido na tela do computador é um primor)

Se não fosse apenas isso, o trabalho de Gaigher é um espetáculo a parte. A forma como sua interpretação muda conforme a personificação do espirito da vez mostra uma versatilidade e talento ímpares, bem como também a sobriedade da psicanalista, que diz muito apenas com olhares. Há alguns problemas como o tom de outros personagens, que aparecem travados e caricatos, mas que não prejudicam o grosso da obra. Na verdade, de certa forma, isso contribui para que o núcleo principal pareça ainda mais isolado.

Ao fim de seus doze episódios, a sensaçaõ é de um enorme acerto na nossa produção audiovidual, sempre bastante competente, mas com dificuldades eternas em sair de bolhas, mesmo com grandes sucessos de tempos em tempos.

Pela facilidade de se assistir e sua qualidade, deveria ter muito mais visualizações do que hoje tem.