Crítica – Arcane: Ato II (2021)
Menos centrada em um ato e com mais cara de série, “Arcane” aprofunda os dilemas de seus personagens e se prepara para mergulhar seu universo em uma guerra. Lembrando que esta análise é um complemento do texto da semana passada, que você pode ler aqui.
Dando um significativo salto no tempo em relação ao final do terceiro episódio, vemos as consequências da invenção do HEXTEC e como isso mudou drásticamente a dinâmica do universo apresentado na série. Se no primeiro ato, a trama política e os dilemas do uso ético dessa nova tecnologia ficaram em segundo plano para dar destaque às irmãs Vi e Powder, aqui o título da série se impõe, mostrando que sera esse uso tecnológico do arcano que dará as notas do climax que se aproxima de forma veloz.
Conflitos
Primeiramente, é muito interessante que esses três episódios explorem o conflito entre os amigos Viktor e Jayce. Já que eu bati nessa tecla na crítica passada, continuo a defendendo aqui: Arcane é sobre conflitos.
Por um lado, o idealismo dos dois jovens está sendo esmagado pelo interesses dos ricos e poderosos de Piltover e de outro, Viktor está inerentemente em conflito com seu próprio corpo, lutando contra uma doença imparável. Assim é poético que a única pessoa que o entenda seja o ser “imortal” que servia de professor e guia. Não fosse uma história que já tem seus passos definidos pelo jogo que a originou, o desfecho poderia ser bonito, mas a sombra de um vilão clássico já espreita o personagem.
Por outro lado, Jayce carrega o tropo do jovem que se vê diante do poder cedo demais. A série toma cuidado em não o colocar como alguém ingênuo e manipulado, nem seus manipuladores como agentes maquiavélicos. As relações são condizentes com o carisma que os personagens carregam e seus erros são orgânicos.
Jovens são jovens, e não deveriam ter uma bomba atômica nas mãos. A tentação de controlar a vida é grande, mas impossível. Jayce não pode salvar Viktor e em especial, na relação com Caitlyn, o descontrole sobre o mundo se mostra evidente, já que a jovem não segue mecanicamente seus desejos.
Quem te ensinou a socar?
Caitlyn, aliás, assume aqui a figura do expectador, nos fazendo caminhar pelo tortuoso caminho que levou as duas irmãs a se tornarem o que serão daqui para a frente. É ela que investiga o misterioso conflito entre uma gangue de skatistas voadores e a misteriosa Jinx e é também através dela que descobrimos onde Vi esteve todos esses anos.
É preciso dizer que a maravilhosa caracterização de Powder no primeiro ato deu lugar a uma psicodelia característica da personagem Jinx no jogo. Temos que considerar que o simples conceito da personagem é raso e a série precisa equilibrar o fanservice aos fãs com o desenvolvimento que eles mesmos querem apresentar. A solução é elegante, ao apelar para os arranques emocionais da jovem ela literalmente muda de personalidade de uma cena para a outra sem comprometer a narrativa.
Vi por outro lado, começa a procurar sua irmã em uma luta desesperada e persistente, representando na jornada aquilo que a personagem representa em suas cenas de ação. Caitlyn surge então como um contraponto, alguém que não viu o lado cruel da vida em Zaum e que brilha com a esperança da cidade do progresso.
Portais abertos
Por fim, mesmo pisando no freio e entregando uma trama menos interessante do que o primeiro arco, “Arcane” cimenta bem as bases do conflito generalizado que se estabelece. Mesmo com o encontro tocante entre as irmãs no último episódio, ambas sabem que algo mudou e que nada poderá voltar a ser como antes.
Em algum momento, Jayce terá que encarar que ser o rosto do progresso de Piltover o fez deixar muita gente para trás e creio que o desenvolvimento da trama trará para ele o apoio de Vi e todo o aprendizado da personagem. Se assim for, será uma estrutura bem feita de se ver. Ah, e que dó que eu senti do Heimerdinger…
Arcane: Ato 2 (Arcane: League of Legends)
Netflix
2021
Animação, Aventura
Produzido por Riot Games
Elenco:
Hailee Steinfeld, Mia Sinclair Jenness, JB Blanc, Harry Lloyd