Crítica – Lightyear (2022)
Quando encontramos Buzz Lightyear pela primeira vez em 1995, o mundo não era menos complicado que hoje. Talvez fosse mais fácil fingir que a realidade não existia e se fechar em seu próprio mundinho, tal qual o fazem as crianças. Ainda assim, era um mundo como o nosso.
Apesar disso, caso os mais saudosistas possam lembrar, uma coisa era diferente quase trinta anos atrás: A Pixar ainda não tinha renome, ainda não nos fornecia parâmetros de avaliação. Isso, definitivamente, é diferente hoje.
O filme que gerou o brinquedo do filme
“Lightyear” abre com uma série de letreiros que provocam sentimentos ambivalentes. Ao evidenciar que o filme que veremos na sessão seria aquele visto por Andy nos anos 90, provoca bastante nostalgia. No entanto, ao mesmo tempo, essa nostalgia se estende não apenas ao primeiro “Toy Story“, mas evoca todo o espírito de uma época.
Mesmo que a última década do século XX não tenha sido marcada por aventuras espaciais, foi uma época marcada pela aventura e pelo scifi. Já nas primeiras cenas de “Lightyear”, no entanto, podemos ver um estilo altamente atual. Hora, se este é o filme que Andy viu, não deveria ter um espiríto da época, com um pouco do charme de “De Volta para o Futuro” ou mesmo “MIB – Os Homens de Preto“?
Nada disso aparece em tela, e rapidamente entendemos que o plano é criar uma nova franquia e não revenciar o passado. Nada de errado e, na verdade, bem ao contrário. Seria um frescor ver algo que não se apega ao passado. Ainda assim, fica o gosto amargo da promessa não cumprida.
Uma aventura divertida e carísmática
Então, passado esse incomodo o filme engata. Bom, bem verdade que isso acontece meio aos trancos. Enquanto segue oferecendo um scifi denso sobre a mecânica dos saltos no tempo e da supervelocidade, o filme vai construindo um ótimo primeiro ato. Tal qual “Up – Altas Aventuras” e “Procurando Nemo“, temos aqui um ótimo drama de entrada, mas também um parâmetro alto demais de comparação.
Se nos filmes citados a aventura segue em alto nível, “Lightyear” se recorda tarde demais que precisa agradar também as crianças – e ora, não deveria ter sido assim desde o começo? Sobra então para os personagens secundários a carga de manter o tom de humor infantil da trama, enquanto o protagonista leva nas costas uma mensagem supostamente edificante e um dilema ético complexo. Pouco é satisfatório, seja para os mais jovens ou aos adultos.
Ao menos, o carisma dos personagens convence e a trama, mesmo boba, se resolve bem em um climax divertido. Fato é que muito tem-se dito sobre a Pixar estar perdendo o jeito com suas produções, e eu discordo.
“Lightyear” pode não ser o filme do ano, pode não se comparar aos filmes que deram origem à sua história décadas atrás, mas é um filme competente. Se há quem diz o contrário, é só porque a própria Pixar colocou a régua no alto, e o mundo não é feito apenas de obras primas. Abaixem a régua e divirtam-se.